Jipão, da Padaria Santa Rita, é o primeiro entrevistado da série “Comerciantes da antiga Santa Fé”

Publicado em 14/03/2015 00:03

Por Daniela Trombeta Dias

JIPAO6 A padaria santa rita 6 B padaria santa ritaA reportagem de O Jornal dá início nesta edição a uma série de reportagens com comerciantes antigos da cidade, que contarão suas experiências à frente de seus estabelecimentos enquanto Santa Fé do Sul se expandia, comerciantes estes que até hoje mantém seus estabelecimentos.
O primeiro comerciante entrevistado é Rieli Agostinho, de 70 anos, mais conhecido como Jipão, proprietário há 19 anos da Padaria Santa Rita, situada na rua 7, no centro de Santa Fé.
Ele relatou que desde 1969 trabalha na padaria. “Sempre trabalhei na roça, mas com 25 anos já era casado com a Ivone Canova, e comecei trabalhando como entregador de pão, os quais entregava usando uma charrete. Naquela época o proprietário da padaria era Abílio Dias e o local chamava Padaria Dias. Já em 1970, Joaquim Dias Cardoso comprou o estabelecimento e deu o nome de Santa Rita, pois sua mulher, dona Maria Júlia, era devota da Santa, porém essa padaria já existia desde os anos 50”, contou ele.
Disse ele que após algum tempo trabalhando como entregador de pão, seo Joaquim Dias o colocou para trabalhar no balcão. “Então fui aperfeiçoando meu trabalho e aprendendo, passando a ser gerente em 1978. Já em 1996, arrendei a padaria, e, em 1999, a comprei, e o local passou a ter o nome fantasia de Agostinho ME, ou seja, só troquei a razão social”, disse Jipão.
Lembrou ele ainda dos tempos em que a padaria era o “point” da cidade, principalmente para os jovens. “Foi aqui que começaram a ser realizadas as festas de Carnaval, assim como os campeonatos de churrasco; porém, antes disso, quando ainda quase ninguém possuía carro, os moradores de toda a Comarca vinham para passear; eles vinham de trator, de caminhão, charrete ou carrinho, era o lugar tradicional para se ficar, se divertir e paquerar. A padaria recebeu muita gente, até famosos, como cantores e artistas de teatro”, disse ele.
O apelido de Jipão ele adquiriu depois que começou a trabalhar na padaria. “Eu trabalhava com pão e jogava bola, corria muito e, por isso, me apelidaram de Jipão. Sempre levantei cedo, antes era às 4:00 horas, e hoje levanto às 5:00 horas”.
Na padaria e através do trabalho no estabelecimento foi que seus filhos Meire, Reginaldo e Ana Renata foram criados, cresceram e também aprenderam a profissão. “Eles se formaram e possuem outras profissões, mas ainda auxiliam no trabalho aqui, assim como meu genro, Marcos. Tenho ainda vários funcionários, sendo que um trabalha aqui desde 1976”, enfatizou.
Foi na Padaria do Jipão, como também é conhecido o local, que foi feito o primeiro lanche na chapa de Santa Fé. “Isso foi em 1970, e o lanche era feito com pão, presunto e queijo, pois não havia ketchup, mostarda ou maionese. Trabalhei mais de 20 anos fazendo lanche na chapa”. Quando questionado sobre o que faz para que os lanches sejam saborosos e muito elogiados pela população, ele relata que é a qualidade dos alimentos e a preparação dos mesmos que propiciam o sabor diferenciado. “Também não usamos massas prontas ou farinhas preparadas na fabricação dos alimentos”.
A padaria ainda é o ponto de encontro de muitos da cidade, e sobre o que mudou daquela época até agora, Jipão diz que a Santa Fé cresceu e trouxe mudanças. “Antes, tudo era comprado em padarias. Não existiam supermercados ou minimercados, apenas armazéns, e nas padarias eram vendidos, além de vários tipos de pães, bebidas destiladas, roscas, bolos. Depois, tudo foi crescendo e tomando outra proporção, e hoje temos salgados, servimos alimentos, bem como doces para vários eventos, como aniversários, casamentos e inaugurações”, contou.
Disse ele ainda que antigamente as pessoas dependiam mais do pão. “Não havia tantas opções de alimentos e os pães mais procurados e os mais famosos eram o pão de bengala e pão caseiro, pois nem mesmo o pão francês tinha sido criado. Hoje, fabricamos tudo o que vendemos aqui e usamos 6 sacos de 50 quilos de farinha por dia”.
Para ele, Santa Fé melhorou muito. “A cidade expandiu, e hoje tem gente diferente, capacitada, que veio para cá, e, com isso, a cada dia no município cresce mais e mais, porém quero enfatizar que tivemos a sorte de que em muitos mandatos a cidade foi administrada por bons prefeitos”, falou Jipão.
Ele deu ainda um conselho para os novos empresários. “Não adianta começar querendo fazer tudo de uma vez, pois, assim, podem falir antes mesmo de expandir o negócio. É preciso ir seguindo a demanda do freguês, sempre com os pés no chão”.
Sempre brincalhão, Jipão está sempre pregando peças em seus clientes, tanto com uma moeda que fica presa em baixo de um vidro a qual ele sempre diz que o cliente esqueceu de pegar de cima do balcão, ou mesmo com o convite de seu aniversário de 100 anos que deve ocorrer no ano de 2044.
Para muitos santafessulenses, as bombas recheadas de creme e com uma fatia de maçã como decoração, ou o quindim, e até mesmo o pudim de padaria da Padaria Santa Rita, está em suas memórias e no paladar, fazendo com que se lembrem da doce e boa infância que aqui tiveram.

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