Tópicos da Semana – Edição de 25/03/17

Publicado em 25/03/2017 00:03

Por Mário Aurélio Sampaio e Silva.
Charge: Leandro Gusson (Tatto)

Charge 25-03A carne é fraca!!!
Ah, a carne é fraca!!! A corrupção é tamanha neste país que falar de todas as corruptelas que vivenciamos no dia-a-dia é como que falar que o sol é quente e o gelo é molhado. O Brasil está longe de ser incorruptível, é como se disséssemos o tempo todo que a carne é fraca, expressão popular usada para justificar ou se desculpar por um erro cometido, como “roubei porque não resisti”, “fui corrompido, pois o dinheiro era bom”, “recebi a propina, haja vista ser ela ser irrecusável”, e por aí vai. Eita paizinho do “levar vantagem em tudo”. Parece que agora, com a questão da carne com papelão, foi descoberta origem de expressão “Vou passar um fax”.

Meus heróis
Em 1998, o poeta e cantor Cazuza, vitimado pela tão terrível Aids, dizia em sua canção “Ideologia” que seus heróis morreram de overdose e que seus inimigos estavam no poder. Muitos de nossos heróis de hoje, como artistas da MPB e da TV brasileira, ganham cachês bilionários com propagandas publicitárias. Três das maiores celebridades do país, Roberto Carlos, Fátima Bernardes e Tony Ramos, se não ainda o fazem, associaram a imagem delas aos produtos vendidos pelos frigoríficos JBS, dono da Friboi e da Seara, e BRF Brasil, proprietário da Perdigão e da Sadia. Resta saber agora como ficam esses três ícones nacionais.

E agora?
Tony Ramos é o garoto propaganda mais longevo da Friboi. Em vários comerciais, o ator foi visto dentro da linha de produção de carne do frigorífico. Sua missão era, sobretudo, ressaltar a qualidade do produto. Quando Fátima Bernardes aceitou fazer as propagandas da Seara, a justificativa foi a de que só estava associando a imagem dela aos produtos da empresa porque tinha a certeza de que eram de boa qualidade e que consumia em casa com os filhos. Roberto Carlos, mesmo sendo vegetariano, aceitou um cachê milionário para promover a carne da Friboi. Nos comerciais, fingia comer o produto. A polêmica foi tamanha, que a Friboi cancelou o contrato com o cantor e queria que ele devolvesse parte do dinheiro que havia recebido.

Operação Carne Fraca
Quase que o mundo todo já tomou conhecimento desse verdadeiro mar de lama que o nosso país tem se tornado, e a Operação Carne Fraca veio para nos afundar ainda mais neste lamaçal. Deflagrada na sexta-feira da semana passada, mostra hoje ao mundo quem somos, o país dos “espertos”.

Artifício
A Operação, deflagrada pela Polícia Federal do Brasil, foi o estopim para o escândalo, onde apontou que as maiores empresas do ramo – JBS –, dona das marcas Seara, Swift, Friboi e Vigor, e a BRF, da Sadia e Perdigão, são acusadas de adulterar a carne que vendiam no mercado interno e externo. No total, o escândalo da carne adulterada no Brasil envolve mais de 30 empresas alimentícias do país, acusadas de comercializar carne estragada, mudar a data de vencimento, maquiar o aspecto e usar produtos químicos supostamente cancerígenos para buscar revenda de carne estragada, além de apontar agentes do governo acusados de liberar estas carnes.

Cai, cai, balão
O Brasil é o líder mundial em exportação de carne bovina e de frango, e o quarto exportador de carne suína. A empresa BRF, controladora de Sadia e Perdigão, possui no país 47 fábricas, e sozinha detinha 14% do mercado mundial de aves, exportando para 120 países; já a JBS, controladora das marcas Friboi, Seara, Swift e Pilgrim’s Pride, era considerado o maior frigorífero do mundo, enviando carnes para 150 países.

Despencou
Como impacto imediato, o preço das ações das duas empresas caíram na Bolsa de Valores já na sexta feira, 17, dia da operação, ou seja, 7,25% a BRF e 10,59% a JBS. Evidentemente que terão muita dificuldade para conseguir reverter essa quebra de confiança, até porque propagavam que “nessa você pode confiar”, “carne confiável tem nome”, e por aí vai…

E caiu mais
A Operação está, evidentemente, repercutindo mundo afora, e com restrições a entrada de produtos de frigoríficos em muitos países. Na última quarta-feira, dia 22, Hong Kong, Chile e Egito suspenderam temporariamente a entrada de todos os tipos de carne do Brasil. A Argélia fez a suspensão de todos os produtos. A decisão do Japão atingiu as 21 entidades investigadas. A União Europeia e a Suíça barraram os produtos das quatro que possuem licença para vender os produtos para os europeus.

E mais…
Jamaica e Trinidade Tobago suspenderam temporariamente a entrada de carne enlatada e termo processada. A Jamaica estabeleceu ainda o recall interno destes produtos. O México, que só importa frango do Brasil, suspendeu, sem data determinada, a entrada do produto, e a China está retendo nos portos todos os tipos de carne dos 65 frigoríficos exportadores. Os Estados Unidos passaram a inspecionar 100% das amostras; e a Coréia do Sul, 15%. A Arábia Saudita também subiu o índice; e Israel fez pedidos de informação a autoridades brasileiras.

E mais ainda
O Panamá fez a suspensão temporária de carne processada. Os Emirados Árabes fez a retenção de todos os produtos em seus portos. Bahamas, com a suspensão temporária de todos os produtos; a África do Sul, com a suspensão temporária de produtos de seis unidades brasileiras; Vietnã intensificou as inspeções e Barbados entrou com um pedido de informação de carnes processadas.

Quem tudo quer, nada tem
Antes da Operação Carne Fraca as exportações diárias da carne brasileira eram, em média, de 63 milhões de dólares. Na última quarta-feira o valor despencou para 74 mil dólares, uma queda de 99,8% em relação à média diária de março.

Doações a políticos
As principais empresas investigadas e alvos da operação Carne Fraca doaram 393 milhões de reais a políticos nas eleições gerais em 2014. O maior beneficiário foi o PT com 60,7 milhões de reais. O PMDB ficou em segundo lugar com 59,1 milhões de reais e em seguida o PSDB com 58,1 milhões de reais. O PP e o PR receberam 38,1 e 24,4 milhões de reais respectivamente. Dentre os candidatos, os políticos filiados ao PT foram os que mais receberam, totalizando 60,6 milhões, enquanto políticos do PMDB 6,9 milhões, do PSDB 3,3 milhões de reais, do PSD 3,1 milhões de reais e do PROS 1,6 milhão de reais.

 

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