BARRACO NA PERIFERIA
As coisas acontecem assim: Existe aquela história de que “O que os olhos não vêem o coração não sente!” Daí algumas pessoas estarem convictas de que podem armar suas falcatruas longe de casa, fora do seu meio social, que vai dar tudo certo! Vai dar certo porque afinal o status conta e essas pessoas acham que se envolvendo com gente de poder aquisitivo inferior ao seu, estarão de certo modo protegidas de um escândalo em sociedade.
Ledo engano! Muitas vezes, uma “trepadinha” sem compromisso, com aquela mulher gostosa de um bairro afastado, longe das rodas sociais, pode sair caro, muito caro…
Foi assim com Valdomiro. Família estabilizada, alto poder aquisitivo, prestígio na sociedade. Tudo para dar certo!
Mas o DNA da safadeza não desaparece só porque você é rico, ou famoso, ou culto, ou tem um cargo importante. E o Valdomiro, como muitos homens que conheço, adora vez por outra dar umas voltas pelas ruas da periferia, verificar como vão os bairros menos privilegiados, ver caras novas… De mulheres, é claro!
Eis que em um desses passeios “de reconhecimento” pela periferia, tomando um cafezinho inocente, numa padaria inocente, comprando um pão mais inocente ainda, meu amigo conhece a mulher que ele classificou como: ‘Limpeza’!”
E começou a fazer suas conjecturas: “- Tem jeito de casada, carente, pobre. Deve ser cheia de filhos, tem medo de perder as crianças… O marido nunca a levou num motel melhorzinho… Ela nunca deve ter entrado num carrão igual ao meu… Essa não dá B.O.!!!
E Valdomiro caiu com toda a sua lábia para cima da dona de casa, uma das muitas com sua blusinha com a barriga sarada de fora, quatro dedos de saia Jeans inexplicavelmente justa, o cabelo de uma cor indecifrável… Mas com dois requisitos indispensáveis: gostosona e desconhecida nos círculos de amizade do Don Juan!
E a jovem senhora caiu no papo de urubu malandro do meu amigo Valdomiro. E marcaram um encontro. E depois houve outro e mais outro e mais alguns. Sempre no mesmo motel.
Janete expressou uma preferência especial por aquele lugar. Pudera! A única vez que fizera amor fora de casa com o marido fora na boléia do caminhão dele, em uma de suas viagens mais curtas pelas estradas da região.
Janete começou a andar mais arrumadinha, mais ajeitada, aquela cara de mulher satisfeita, o ego lá cima, cantando no tanque, chamando o marido e os filhos de meus amores, carregando a certeza de que ninguém desconfiava das suas escapulidas.
Mas o marido caminhoneiro (profissão que dá muita dor de cabeça aos mais descuidados) vivia com um olho na missa e outro no padre. E acabou descobrindo o ninho de amor dos pombinhos que enchiam sua testa de alegorias fora do Carnaval.
Resolveu dar o flagrante. Com classe! Categoria! Catiguria de periferia! Montou em seu único meio de transporte, seu caminhão velho, e entrou no motel dos amantes.
Já informado dos detalhes necessários, foi até a garagem do quarto indicado e atravessou o caminhão na entrada.
Pronto! O carrão do figurão da sociedade não sairia dali até que a polícia chegasse! E foi o que se deu! O marido de Janete chamou a polícia, a imprensa apareceu, e estava armado o maior barraco. Parecia o “samba do caminhoneiro doido”! Apanhado assim, com as calças na cadeira, Valdomiro não escapou de uma boa surra do marido traído, não escapou do escândalo nas suas vitrines sociais, muito menos do Boletim de Ocorrência. O pior foi ter que levar a esposa, digníssima patroa, para fazer compras na Europa por dois meses com cartão de crédito liberado, sem limite, para que ela o perdoasse e esquecesse o deslize…
Aprendi com Valdomiro a não subestimar nenhuma classe. E aprendi há muito tempo que “O BARATO SAI CARO!”