NÓS VAMOS INVADIR SUA PRAIA!

Aliás, já invadiram! Invadiram, assim, na maior, sem me pedir permissão nem nada!
Mas foi por uma boa causa. Afinal o sol nasceu pra todos, e todos nasceram nus. E tem coisa melhor que um banho de mar, peladão, do jeito que veio ao mundo?
Tem gente que é contra, tem gente é a favor, tem gente que nem sabe o que é isso. Como tudo na vida. Tem gosto pra tudo. Tem gosto até para o mau gosto. Mas não é o caso aqui, pois tomar banho de mar nu, tomar banho de chuva e banho de cachoeira são conversas com a Natureza que todo ser humano deveria experimentar uma vez na vida.
A gente sempre tem um lugar preferido. Eu também tenho o meu. O meu é um canto de praia, com a serra ao fundo, muitas rochas, areia branca, piscinas formadas entre as pedras, um paraíso. Lugar que eu tenho necessidade de ir vez por outra, reabastecer as energias, namorar com a vida, exibir para alguém que nunca tenha ido ao Rio, levar as crianças para o primeiro banho de mar, enfim, meu santuário…
Lá sempre foi uma praia deserta durante a semana. Noivas e debutantes gostam de ir naquele pedaço de paraíso para fazer fotos. Muitos comerciais de televisão e cenas românticas de filmes e novelas são gravados lá. Por causa da privacidade.
Agora os naturistas invadiram minha praia! Que bom! Pelo menos agora vão ter que ter carteirinha pra entrar lá. E pagar uma taxa anual! Liberou geral! Coisa de país civilizado. Tem gente que é a favor. Tem gente que acha uma pouca vergonha! Depende do que se tem na cabeça.
Há trinta anos as pessoas já tiravam a roupa lá na “praia do Abricó”. Ninguém ligava, mas podia-se transitar com roupa também. O que atraía as pessoas era o fato de ser quase deserto e aquela natureza selvagem. Até churrasco a gente já fez por lá. Uma vez levei minha mãe para conhecer.
Ela só saia com meu pai. Levei-a escondido à “Abricó”! Ela ficou estupefata. Adorava o mar! Ficamos lá, largadonas, de maiô, lógico.
De repente, ela arregalou os olhos e virou-se pra mim com cara de quem viu fantasma. “- Menina! Minha filha! Aquele moço que está vindo em nossa direção está pelado! O que a gente vai fazer? Pelo amor de Deus!” – Realmente, em nossa direção, caminhava um belo exemplar do sexo oposto, bem dotado de atributos físicos, pra ninguém botar defeito…
E mim mãe ali, feito uma tonta: “- Minha filha! Seu pai vai me matar! Como que você me traz pra um lugar desses? O único homem até hoje que eu vi sem roupa foi meu marido! Que faço agora? Levanta, anda. Vamos embora. Que faço agora, meu Deus?” – – dizia ela baixinho, sentando mais pra perto de mim e me enchendo de beliscões.
“- Olha bem, mãe. Aproveita! Não faz comparação com o único que você conheceu até hoje! Fique calma, quieta, deita aí; infelizmente ele não vai morder a gente!!! Se a gente tiver sorte, chegam outros e você perde essa tua ingenuidade de achar que bom é bonito é só o que você tem em casa!” É claro que nunca mais ela saiu comigo.
Invadiram minha praia. Não vou ter outra opção a não ser virar naturista. Sou profundamente simpatizante. Aliás, sou simpatizante de quase tudo. Mas, vamos combinar: Existe coisa mais natural do que nadar do jeito que viemos ao mundo. E se as pessoas que cercam você comungam do mesmo sentimento, das mesmas ideias, onde está o mal? Vou ter que fazer carteirinha para meus netos. Espero que eles tenham a mente mais aberta que a minha mãe! Espero que os pais deles não os proíbam de sair comigo! Seria tão frustrante pra mim. Nessa idade!