Ano novo de novo
Dezembro terminou, e a maioria dos seres humano age como se no próximo Janeiro fossemos nos tornar pessoas diferentes daquelas que fomos até agora.
Como se o simples fato de explodir fogos de artifícios, trocar abraços e beijos esfuziantes, estourar champanhas, vestidos com nossas calcinhas e cuecas coloridas, e pulando ondas no mar pudesse, como num passe de mágica, mudar radicalmente nossas vidas, e que certamente todos os nossos sonhos serão realizados.
Esquecemos que nossa vida, assim como nossos propósitos, são pre- estabelecidos desde a infância, com a ajuda ou interferência benéfica ou prejudicial de pais, professores, e contam em cada etapa, cronológica e mental, com a participação da sociedade da qual fazemos parte, assim como dos amigos que escolhemos ao longo do caminho.
Infelizmente, faz parte da nossa cultura e da nossa formação familiar não desenvolver o hábito de estabelecer metas e propósitos em longo prazo.
Quando nossos filhos são pequenos, nos atemos a questioná-los sobre o que desejam ser quando crescer, mas, no decorrer do seu desenvolvimento, simplesmente essas perguntas são esquecidas, e quando chegam naquela fase em que é necessário realmente saber o que querem, não estão preparados para tal, justamente porque não foram estimulados a refletir sobre o futuro e criar competências para realizar seus projetos.
O mesmo acontece a muitos de nós. A carreira, a vida e os caminhos, certos ou errados, são influenciados por aqueles que nos amam e por muitos que pensamos amar.
Quando se trata da nossa vida pessoal, também não houve o incentivo a refletir, estabelecer planos, e acabamos fazendo como sugere Zeca Pagodinho: “Deixa a vida me levar”. Enquanto isso, desempenha-se papéis, subindo no palco da nossa história e atuando, representando personagens para os quais nem sempre estamos preparados.
A maioria dos pais não estimula suas crianças nas diferentes fases da vida a enfrentar os desafios que estarão à espreita, e, quando eles aparecem, há que optar entre frustrar os planos que traçaram para nós, ou fingir que esquecemos nossos próprios sonhos.
Mas esses sonhos ou propósitos vão se tornando cada vez mais insistentes no inconsciente. À medida que o tempo passa, o nosso corpo muda, e a reflexão se torna obrigatória, e não mais uma opção. E isso acontece, principalmente agora, com o aumento da longevidade mundial, e descobrimos, surpresos, que teremos mais tempo para realizá-los.
E como todo dezembro precede um janeiro, cá estamos, nós, cheios de boas intenções, prometendo a nós mesmos que a leves ou duras penas vamos nos reinventar, ser outras pessoas, com hábitos diferentes e atitudes revolucionárias desta vez.
Pessoas quase novas, como o ano que se inicia. Muitas coisas permanecerão velhas no novo janeiro, mas seguimos assumindo compromissos com a vida, somente com quem nos ama e tentando fazer com que dessa vez dê mais certo, mesmo que isso custe frustrar as expectativas de outrem ou nos faça finalmente compreender que teremos que acordar em muitos outros janeiros confiantes de que: “Nós é que temos que levar a vida”!