Enquanto isso, sob os panos quentes…
No início dessa semana seguia para Três Lagoas, Mato Grosso do Sul, quando me deparei com o acesso àquela cidade bloqueado por um protesto.
De início, veio-me a revolta.
Antes que eu pudesse buscar entender o porquê de haver algumas pessoas interditando a pista da BR-262 sobre a barragem da usina de Jupiá, ouvi um motoqueiro lamentar um pouco a minha frente: “disseram que só vão liberar a rodovia no fim da tarde”.
QUANTO RADICALISMO! Pensei na mesma hora.
Porém, enquanto alguns motoristas aceitavam a amarga derrota para o fortuito e manobravam seus veículos para retornarem, me dirigi até um dos caminhoneiros, encostado em uma carreta com placas de Três Lagoas, e o questionei sobre o que de fato estava ocorrendo.
Então ele, calmamente, me explicou a situação: a Petrobras, através de um consórcio com outras duas empresas, iniciara a construção de uma unidade de fertilizantes nitrogenados naquele município, e, sem dar explicações, rescindira o contrato com o consórcio, deixando dívidas com empresários da cidade, que somadas totalizam mais de 20 milhões de reais. Os empresários, desesperados e sem nenhuma alternativa ou previsão para receber, haviam idealizado o protesto para tentar chamar a atenção da mídia e da sociedade de modo geral.
Eu deveria estar em Três Lagoas as 7:30 horas e retornar para Santa Fé até as 10:00 horas, onde tinha vários compromissos previamente marcados, no entanto, somente consegui completar a viagem e, então, voltar para cá, por volta das 17:00 horas, pois mesmo com a liberação da rodovia tendo ocorrido próximo ao meio-dia, foram necessárias várias horas até a normalização do fluxo de trânsito.
Assim que cheguei, já com o dia todo perdido, fui imediatamente para a frente do computador pesquisar informações e notícias sobre o ocorrido.
Foi uma dupla decepção.
Primeiro porque eu desejava encontrar alguma informação sólida que não me deixasse acreditar que a Petrobras, empresa que já foi um dos maiores orgulhos dos brasileiros, e que simbolizava a potência de nossa nação, estava mesmo vivendo aquela insólita situação de – aspas para tirar o peso da palavra – “caloteira”.
Não encontrei tais fundamentos para alimentar minha descrença.
Pelo contrário, a forma quase que misteriosa que a Petrobras havia comunicado a rescisão do contrato com o Consórcio UFN3, formado pela empresa chinesa Sinopec e a brasileira Galvão Engenharia, alegando, sem maiores detalhes, simplesmente o “descumprimento do contrato” por parte do consórcio, deixou no ar aquele cheiro quase que palpável de irregularidade.
Em segundo lugar porque, apesar de eu ter acreditado que caso a história contada pelo caminhoneiro fosse realmente verídica haveriam inúmeras notícias denunciando a terrível situação em que chegara a gigantesca empresa petrolífera brasileira, não havia praticamente nenhuma das grandes mídias dando atenção para aquele acontecimento absurdo.
Foi necessário pesquisar bem para encontrar algumas poucas informações que os órgãos de notícia, quase que timidamente, haviam divulgado sobre o ocorrido naquela manhã na BR-262, bem como sobre a paralização da construção da unidade da UFN3 em Três Lagoas, que, além dos prejuízos milionários, deixara também mais de dois mil e quinhentos trabalhadores que participavam das obras desempregados e com direitos trabalhistas atrasados.
Analisando os fatos constatei ainda que a Galvão Engenharia, integrante do Consórcio UFN3, é uma das empresas citadas da Operação Lava Jato, deflagrada pela Polícia Federal em conjunto com o Ministério Público Federal, que tem como intuito investigar um grande esquema de lavagem e desvio de dinheiro envolvendo a Petrobras, grandes empreiteiras e políticos.
Enfim, muito pior do que o transtorno de ter ficado horas parado na rodovia sob o sol quente deste verão, foi verificar que, lamentavelmente, o país segue parado (e assombrado) sob os pérfidos “panos quentes” que o governo não se cansa de colocar em seus escândalos.