Hora de “beber o defunto”
Até bem pouco tempo eu na conhecia este termo: beber o defunto. Até o dia em que, conversando com uma amiga, ela desabafou – “Chega! Já chorei muito, já sofri demais, já perdi noites e mais noites acordada me lamentando. Tá na hora de ‘beber o defunto’ e partir pra outra”. Concordei plenamente.
Quem de nós nunca passou por momentos, dias, meses, e alguns mais exagerados até anos mergulhado no sofrimento depois de dar ou receber um pé na bunda? Disso ninguém escapa. E às vezes nos sentimos até pior quando somos nós a tomar a iniciativa de por um ponto final na relação. Vem a incerteza, a dúvida de ter ou não feito a coisa certa. Tudo misturado com o orgulho de não querer ou não poder voltar atrás.
Quando é você o descartado da relação, o sentimento é realmente este: descarte, lixo. Sentindo-se a última pessoa do mundo, tem a certeza de que nunca mais vai encontrar alguém e que a vida terminou ali. Quanto mais jovens somos, maior é o período de sofrência. É a não aceitação de que o relacionamento já vinha terminando há muito tempo ou nem deveria ter começado. Hora do luto. Que nos trajemos de preto.
Quando a dor vai diminuindo e outro alguém tenta se aproximar, vem a rejeição a uma nova dor. O rosto ainda não secou e você não quer nem por decreto cair na cilada de um novo amor. E porque não? Pra não sofrer outra vez. Porque você acha que a pessoa não presta, assim como a anterior ou anteriores. Que graça a vida tem sem sofrimento? Nunca saberemos o que é alegria.
Chega certa hora que é claro que nem eu nem ninguém sabe qual é, de chutar a tristeza para as ondas do mar, entregar pra Iemanjá, e tomar o champanhe sozinha. Que se beba o defunto e experimente-se um novo cardápio. Penso que não devemos ter medo de sofrer, de fazer-se de coitadinha(o) e perder as oportunidades de tentar viver um novo amor, sempre.
Se não der certo, se os seus dez dedos são podres, de uma coisa pode ter certeza: não vale a pena deixar o lugar na mesa vazio. E por mais que a próxima pessoa também lhe faça sofrer, chorar e passar por outra separação vai valer a pena. Sempre existirão momentos para fazer valer a pena. Mesmo que por pouco tempo. Mesmo que o pé na bunda seja mais forte. Existirão outros e outros e outros momentos de luto, mas também de paixão, ilusão, e, quem sabe, até talvez um grande amor.