Não gostou? Fica em casa!

Publicado em 17/04/2015 23:04

Em 2016 estarei morando nesta cidade há 30 anos. Metade da minha vida passada aqui. Mais da metade dos meus amigos estão aqui e muito da vida aprendi nestas paragens.
Quando me perguntam se já me acostumei com a cidade, respondo: – Já estou adaptada. É um dos talentos do ser humano: Adaptar-se às situações. Mas a verdade é que me adaptei ao carinho que sempre recebi, à qualidade de vida que a região oferece, à segurança, etc.
Faz parte da minha personalidade, das profissões e funções que exerço na vida primar pelo melhor. Quer seja como professora, consultora ou cronista. E sempre agi desta forma, quer seja aqui ou na cidade natal. Por este motivo, muitas vezes me incomoda profundamente ver coisas erradas e não poder fazer nada, a não ser deixar que continuem do mesmo jeito. Alguns amigos, quando presenciam minha revolta diante de atitudes ou acontecimentos errados em algum lugar me aconselham: – Não gosta? Fica em casa! E olha que dá vontade de ficar mesmo.
Entretanto, imagino se cada um ficasse no seu próprio canto e deixasse as coisas erradas acontecerem desde a política corrupta até a falta de respeito com o ser humano, como seria o mundo. Nada mudaria e nós não cresceríamos enquanto cidadãos. No entanto, os indivíduos estão aí: Protestando contra a roubalheira, a falta de ética em todos os setores da sociedade, contra o racismo e o preconceito. Acredito do fundo do útero que é assim que deve ser.
Se seguisse o conselho dessas pessoas eu realmente não sairia de casa. Nem eu nem milhares de pessoas insatisfeitas com o que vivenciam em suas cidades e seus países. E quem mudaria o mundo? Os que se lixam para quem sofre com buracos nas ruas, balas perdidas, estradas esburacadas e a cerveja quente? Os que tratam o povo feito merda e tripudiam sobre aqueles que estão mais seguros em suas casas e só saem pra votar nos políticos que lhes der alguma vantagem ou quando o avião cai em sua varanda? Aí querem justiça?
Se o certo é isso melhor seguir o conselho do grande poeta Manuel Bandeira – Vou-me embora pra Pasárgada. Lá sou amigo do rei. Lá tenho a mulher que eu quero. Na cama que escolherei.

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