A inauguração do cemitério
Essa eu não poderia passar em branco, porque só depois de dez anos é que se vai inaugurar outro recinto.
No antigo existem apenas 35 covas para serem preenchidas.
Imagine a preocupação de nós seres mortais da Terra das Araras Azul-Amareladas.
É a contagem regressiva a partir de hoje. Quem será a bola da vez?
Você, caro leitor, gostaria de ser lembrado na história da cidade de ser o primeiro cidadão a ser enterrado na nova necrópole?
O dito popular reza que toda história se repete. Mas creio que quando ela é fruto da imaginação criativa do autor, a coisa muda de figura.
Nos anos 70, o dramaturgo Dias Gomes, na telenovela “O Bem-Amado”, da Globo, criou o personagem Odorico Paraguaçu, prefeito da fictícia cidade de Sucupira.
O alcaide, protagonizado pelo ator Paulo Gracindo, se caracteriza por sua obsessão em inaugurar o cemitério da cidade, fruto da principal promessa da sua campanha eleitoral.
De um lado, é bajulado pelo secretário Dirceu Borboleta, e conta também com o apoio incondicional das irmãs Cajazeiras, sempre regado a um licor de jenipapo.
De outro lado, tem que lutar com a forte oposição liderada pela delegada de polícia Donana Medrado, que conta com o dentista Lulu Gouveia, inimigo mortal do prefeito e líder da oposição da Câmara e, ainda, o jornalista Neco Pedreira, dono do jornal local, A Trombeta.
Em cima do muro tem a presença de Nezinho do Jegue, defensor fervoroso de Odorico, quando sóbrio, e principal acusador, depois de tomar umas biritas.
O problema é que, após a entrega do campo santo ao povo, ninguém mais morria.
Desesperado, esta situação fez com que o chefe da administração municipal tomasse iniciativas extremas para concretizar sua promessa.
Maquiavelicamente, o prefeito arma uma trama macabra para que morresse alguém.
Assim, contrata um pistoleiro de aluguel, Zeca Diabo, para concretizar o seu plano diabólico dizendo em alto e bom som: “- Deixamos os entretantos e os abstratos, vamos direto para os concretismos e chegamos aos finalmentes.”
Como a vítima ofereceu o dobro que Odorico havia prometido para ser apagado, Zeca Diabo aceitou a proposta.
Ironicamente o prefeito é morto pelo pistoleiro e o cemitério finalmente é inaugurado, passando de vilão a mártir da história.