Você vai saber a hora de me deixar.
Para quem não leu a crônica da semana passada, esclareço aqui o motivo destas linhas.
Ao ser convidada pelo amigo Manoel Matos para participar de encontros de um “processo de desenvolvimento de identidade profissional”, minha vida virou de cabeça para baixo, no bom sentido.
Quem me conhece sabe que uma das minhas manias é dividir experiências que me fazem bem: seja um batom novo, o endereço de um novo restaurante, um livro, um curso…
Daí a necessidade visceral de contar o que aconteceu durante esses encontros que recomendo a todos que têm a mente aberta, sentem necessidade de crescer como pessoa na vida afetiva, social e profissional.
Foram cinco encontros que me permitiram, a partir do meu papel profissional, enxergar quantas coisas haviam se acumulado na minha casa de janelas fechadas. Coisas antigas que guardava como se fossem lembranças de um passado que não me servia para nada, nem como guia, mas me incomodavam e faziam sofrer.
Na verdade eu me sentia fracassada e sem nenhuma vontade de lembrar do passado profissional ou procurar novos caminhos.Revi velhas imagens da minha vida passada ,desbotadas como fotografias antigas e tentei queimá-las e substituir por imagens novas, condizentes com um novo estado de espírito que buscava desesperadamente adquirir.
E, assim, as janelas foram se abrindo, e, com isso, iluminando outros cantos internos cheios de poeira, quadros carcomidos nas paredes, velhos papéis onde muitos estigmas e velhos preconceitos e ideias imploravam para serem jogados fora.
Quanto mais eu criava coragem e abria as janelas da minha mente mais luz entrava e mais eu descobria como a casa estava velha e abandonada, necessitada de uma nova pintura e de novos móveis, mais modernos, mais confortáveis onde eu pudesse descansar sem precisar morrer intoxicada pela poeira que até então reinava ali.
Tudo aquilo era Eu. E assim foi. Entre lágrimas e risos abri janelas e iluminei cantos e descobri coisas que me faziam estacionar na porta sem querer entrar. Deixei entrar a luz para poder ver e sentir onde eu estava todos estes anos.
Afastei do caminho as fotos, os quadros, os velhos lençóis e as taças empoeiradas. Afastei-os para que eu pudesse passar com todas as minhas intenções de vasculhar tudo e colocar um pouco de ordem no lugar.
A primeira experiência foi abrir as janelas, deixar entrar a luz e abrir caminho por entre os cacos de passado empoeirados e inúteis. Eu já não tinha forças nem olhos para caminhar naquela casa escura. Agora, eu chego a ter coragem para abrir a porta para os que quiserem me visitar e ajudar a transformar esta casa velha.
Sinto-me mais forte, mais corajosa, propondo-me a me olhar de forma mais espontânea, mesmo em meus outros papéis, que não o profissional. Sou outra mulher, outra mãe, outra amiga. Mesmo que as pessoas não percebam, eu sinto que sou. Estou mais certa das minhas atitudes. Esse trabalho transpôs o meu ser e transformou o meu jeito de estar e ver o mundo.