Consumo de coisas supérfluas está levando as pessoas a terem seus nomes inclusos no SCPC
Por Lucas Machado
Embora estejamos vivendo em tempos de crises e falta de emprego, os gastos com supérfluos, principalmente por jovens, têm aumentado, gerando, assim, um número maior de inadimplentes.
Segundo um estudo realizado em todas as capitais pelo SCPC Brasil – Serviço Central de Proteção ao Crédito –, e a CNDL – Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas –, quatro em cada dez brasileiros, ou seja, 45% da população, estão inadimplentes e não têm condições financeiras de pagar suas dívidas atrasadas em um intervalo de até três meses.
De acordo com o levantamento do estudo, a perspectiva de continuar inadimplente é mais frequente nas classes C, D e E (46%) do que nas classes A e B (32%).
Segundo dados da ACE – Associação Comercial e Empresarial –, em Santa Fé, de janeiro até agosto, 765 moradores tiveram os nomes inclusos no SCPC, e, no mesmo período, 814 pessoas pagaram dívidas em atraso e, assim, tiveram os nomes retirados do sistema.
No caso das empresas, de janeiro até agosto, nove foram incluídas como devedoras e três quitaram as dívidas e foram excluídas do cadastro. Já 55 encerram seus serviços e pediram a dissociação da ACE e 10 outras novas foram associadas.
Os valores médios das dívidas dos inadimplentes e suas rendas são consideravelmente diferentes e o dinheiro de plástico (cartão de crédito) é o principal responsável pelas dívidas (42%), seguido pelas parcelas de cartão de lojas (41%).
Os empréstimos junto a bancos e empresas financeiras equivalem a 25% das dívidas; contas de telefone, 11%; cheque especial, 10% e parcelas a pagar no carnê, boleto ou cheque pré-datado, 10%.
O desemprego também é um dos motivos do atraso nos pagamentos de contas, assim como estar com o salário atrasado. O descontrole financeiro e a falta de planejamento também são motivos.
De acordo com um estudo realizado pela Serasa Experian, que traçou o mapa da inadimplência no País, referente ao primeiro semestre deste ano, a região sudeste é a terceira região que concentra um número maior de inadimplência, sendo 24,5%.
Jovens, sejam homens ou mulheres, mesmo que com problemas financeiros, não deixam seus gastos supérfluos de lado. Para os homens, consideramos que o setor mais procurado seja o automobilístico, e, para as mulheres, o setor estético.
De acordo com o proprietário do Centro Automotivo Brito Pneus, de Santa Fé, Francisco Ferreira de Brito, mesmo em tempos de crise, a procura pelos serviços é grande. “Temos grande procura, principalmente para serviços como rebaixamento, instalação de som, kit conforto com DVD, insufilm, e capa para retrovisor”, disse ele.
Francisco de Brito relatou também que, em relação ao ano passado, a inadimplência aumentou cerca de 40%. “Mesmo com a crise, os jovens continuam gastando. A maioria vem comprar e o cadastro é reprovado. Dependendo do caso de inadimplência, seja 30, 60 ou 90 dias de atraso, enviamos ao SCPC; entretanto, sempre procuramos fazer um acerto amigável, reparcelando a dívida, mas poucos aceitam. De dez, um acaba aceitando, e acertando a dívida”, finalizou ele.
Para João Ricardo Alves, proprietário do Salão Estillo, de Santa Fé, a procura pelos serviços de beleza continua a mesma. “As pessoas priorizam pela vaidade, o serviço mais procurado está relacionado ao cabelo. Algumas deixam de fazer coisas essenciais para cuidar do cabelo, porque a mulher moderna, atualmente, trabalha fora, e não tem tempo para se cuidar. Os serviços de alisamento e hidratação são os mais procurados”, relatou ele, que afirmou ainda que não há problemas com inadimplência, pois em seu salão trabalha com cartão de crédito.
Psicologia
De acordo com o psicólogo Dhiego de Carvalho Migliato, há uma explicação psicológica para o consumo abusivo. “Existe o fator emocional, que leva as pessoas consumirem abusivamente coisas que não necessitam. Extrapolam, além de suas necessidades, por compulsão, considerada como transtorno emocional”, disse.
Segundo ele, quando alguém compra algo supérfluo, geralmente é para se ter a sensação de preenchimento interno, ou seja, na tentativa de suprir o vazio interior, ou mesmo em situações de ansiedade que possa estar vivenciando no momento. “Geralmente, as pessoas têm a necessidade do consumo de coisas desnecessárias como forma de pertencer ao grupo do qual faz parte, ou seja, o ditado de que ‘se todos têm, também quero ter’, não importando, neste caso, com as consequências do custo desse desejo”.
Dhiego explica que este processo pode ser considerado um transtorno e precisa ser tratado por psicoterapia e até intervenção médica, e que o tratamento é indicado quando a pessoa percebe que sua condição lhe traz algumas consequências desagradáveis por esse comportamento de comprar.
“Em casos específicos, para os jovens, o ato de comprar abusivamente pode ocorrer pela imaturidade, uma vez que estes não medem as consequências de seus atos, mas não é necessariamente um transtorno; pode ser um ato inconsequente, que necessita de uma intervenção familiar”, explicou o psicólogo Dhiego.
Ele relatou que em caso de persistência da situação, é indicado um tratamento psicoterápico, e até mesmo medicamentoso.
“Para o controle do comprar desenfreado e a busca da psicoterapia, o jovem necessita reconhecer e ter consciência desse ato como sendo um problema para si e para os outros, pois não pagar é um ato que causa dano ao outro. Quando ocorre este reconhecimento, o jovem pode buscar ajuda na psicoterapia para tratar esse transtorno”, finalizou Dhiego Migliato.