“É POSSÍVEL RECUPERAR TODO O RIO DOCE”, DIZ SEBASTIÃO SALGADO
O fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado é conhecido mundialmente pela sensibilidade por trás das lentes. Durante décadas registrou e denunciou inúmeras tragédias por meio de suas fotos. Nos últimos dias, seu nome ganhou as manchetes por outro motivo.
Há anos à frente do projeto Olhos D’Água, que vem revitalizando parte do rio Doce, Salgado vem devolvendo à natureza o que décadas de degradação ambiental destruíram. Diante da tragédia na bacia hidrográfica, ocorrida pelo rompimento de uma barragem da mineradora Samarco, há duas semanas, o fotógrafo se prontificou a colocar seu projeto à disposição para a estratégia ser levada a cabo de agora em diante para revitalizar o rio Doce.
Mineiro de Aimorés, cidade banhada pelo rio, Salgado viu com extrema tristeza a tragédia que atingiu o “seu” rio.
“Tenho muita ligação com o rio Doce. Faz parte da minha vida”, disse o fotógrafo ao Blog do Planalto. “Passei minha infância lá. Foi lá que aprendi a nadar, que tirei minhas primeiras fotos. Hoje o rio morreu, ecologicamente. Não existe mais nada, não existe vida no rio. Primeiro morreu toda a fauna, a flora está morrendo, terminando de morrer estes dias. É um negócio chocante ver o ‘seu’ rio morrer. Essa tragédia me atingiu diretamente”, finalizou.
Recuperação total
Na última semana, Sebastião Salgado foi recebido pela presidenta Dilma Rousseff no Palácio da Alvorada, em reunião sobre os planos de recuperação da bacia do rio Doce.
O fotógrafo afirma que “é possível” salvar todo o rio. O projeto de Salgado contempla a regeneração dos cerca de 900 km de extensão do rio, que possui cerca de 370 mil nascentes.
“Nós pretendemos recuperar todas elas”, afirmou.
Segundo ele, o desastre de Mariana agravou o problema, mas o fato de já ter um projeto estruturado pode ajudar a recuperar a região.
“Quando houve essa catástrofe, é claro que o único projeto estruturado de recuperação do rio Doce, das nascentes, era o nosso projeto.”
Conversa com o poder público
Poucos dias após o rompimento da barreira, Salgado, que estava na China, chegou ao Brasil, e começou as conversas para implementar a proposta.
“Assim que cheguei, conversei com os governadores do Espírito Santo, Paulo Hartung e de Minas Gerais, Fernando Pimentel, que são nossos parceiros no projeto”, disse.
As conversas, segundo o fotógrafo, ganharam o reforço do governo federal, após conversa com a presidenta Dilma, na semana passada. “Ela já conhecia o projeto, adorou, achou a ideia fantástica. A presidenta se prontificou a liderar um grupo que negocie com as empresas, que as convença de participar. Agora, é unir forças para tirá-lo do papel”, enfatizou.
O fotógrafo disse ter sugerido que as empresas donas da Samarco – a Vale e a BHP Billiton – ajudem a arcar com os recursos necessários para a regeneração dos locais afetados. O objetivo é que, a médio e longo prazos, o rio passe de um “desastre terrível” para “um modelo para o Brasil”.
Mega Fundo
Para isso, Salgado propõe a criação de um “mega fundo”, que custearia as ações.
“Resolver o problema do rio Doce é a médio, longo prazo, porque a curto prazo não resolve. E isso precisa de financiamento. O pensamento que a gente tem é de investir nesse fundo. Com o resultado, você consegue trabalhar a recuperação do vale, que não se fará em menos de 30 anos. Tem de garantir uma gestão ética, para poder ter uma utilização decente do fundo, com participação pública e privada”, detalhou. Portal Brasil