Luciano Pires
Essas coisas de sincronicidade são mesmo perturbadoras, não é? Estou lançando uma série de podcasts sobre “propósito”, e o mais recente é o 494 – O bom propósito, onde dou continuidade ao assunto de um programa anterior no qual falei da necessidade de se encontrar um propósito para pavimentar nossa estrada da vida. No 494 eu pergunto: mas será que encontrar um propósito basta? Ou é preciso discutir que tipo de propósito nos serve?
Mergulho então numa discussão sobre moral e ética, lá pelas tantas indo nesta linha: “Se você está pensando em seu propósito de vida, já é um adulto e percebe que tem padrões éticos e morais, digamos, flexíveis, terá uma luta difícil para mudar daqui em diante. Se você cresceu num ambiente onde se acredita que achado não é roubado, por exemplo, estará inclinado a pensar assim para o resto da vida. Se aprendeu que é na porrada que vai conquistar o que quer, tem grandes chances de se tornar alguém como o bandido lá do filme (que citei no programa). Pode até não ser tão perigoso, mas os padrões éticos estão lá: vale tudo para conquistar seu propósito. Mudar um valor ético ou moral depois de adulto exige profunda reflexão, força de vontade e uma capacidade imensa daquilo que chamei em outro programa “outrospecção”. Colocar-se no lugar do outro. Acredite: colocar-se no lugar do outro é a parte mais difícil.”
Pois bem, ao mesmo tempo em que eu escrevia e gravava esse programa, descobri que fiz uma bobagem imensa e não coloquei crédito num chip pré pago da operadora Oi que eu utilizava exclusivamente para o whatsapp do Podcast Café Brasil. É por ali que chegam as mensagens de voz dos ouvintes, que uso nos programas. É fascinante. Mas como não coloquei crédito, a Oi disponibilizou o chip para venda e um sujeito comprou. Um tal de Elias. Pagou 10 reais no chip. Minha produtora ligou para ele, explicou o caso e ofereceu 50 reais no chip. Ele não aceitou, mas acessou o Portal Café Brasil para dar uma olhada. E mandou mensagem pelo Facebook pedindo 1000 reais pelo chip.
Entendeu? Pagou 10 reais e cresceu o olho quando viu o Portal e o Podcast, achando que dava para levar vantagem. Pediu 1000 reais pelo chip. E eu gravando um programa onde falava de “colocar-se no lugar do outro”…
Entrei em contato, expliquei o caso, ofereci um pouco mais, mas não teve jeito. A resposta foi:
– Arruma os 1000 vc consegue.
Bem, em vez dos 1000, arrumei outro número para o whatsapp. O processo de mudança trará uma inconveniência gigantesca, centenas de ouvintes, até serem avisados, vão continuar mandando mensagens para o número antigo, vamos perder um tempo imenso reeditando programas e republicando… por causa do Elias, o esperto.
Infelizmente, gente como ele existe aos montes, e seu comportamento explica a pindaíba em que o Brasil está. O Elias é igual aos bandidos que meteram a mão na Petrobras, aos que desviaram dinheiro da merenda escolar, aos que diariamente roubam o dinheiro público. Pode até não ser tão perigoso, mas os padrões éticos estão lá. Se um dia estiver na mesma posição dos bandidões, provavelmente se comportará como eles.
O Elias aprendeu em casa que o negócio é levar vantagem em tudo, e assim pauta sua vida. Provavelmente ensinará o mesmo a seus filhos. Azar seu se tiver contato com eles…
São brasileiros como o Elias, o esperto, que me deixam com dúvidas sobre o futuro.