Tópicos da Semana – Edição de 27/02/16.

Publicado em 27/02/2016 00:02

Por Mário Aurélio Sampaio e Silva

Charge: Leandro Gusson (Tatto)

Charge 27-02O samba “Pelo telefone” de Donga composta em 1916 tem um pouco da irreverência, romantismo e criatividade do nosso herói de hoje, Noel de Medeiros Rosa.

Também conhecido como “Poeta da Vila”, Noel Rosa nasceu no Rio de Janeiro aos 11 de dezembro de 1910, na antológica Vila Isabel, berço do samba, como o próprio sambista a denominava.

Primogênito do casal Manuel Garcia de Medeiros Rosa, comerciante e da professora Martha, Noel era de família de classe média, tendo estudado no tradicional

Colégio de São Bento.

Adolescente aprendeu a tocar bandolim de ouvido e tomou gosto pela música e pela atenção que ela lhe proporcionava. Logo, passou ao violão e cedo se tornou figura conhecida da boemia carioca. Em 1931 entrou para a Faculdade de Medicina, mas logo o projeto de ser doutor foi trocado pela vida de artista, em meio ao samba e noitadas nas mesas de bar.

Noel foi integrante de vários grupos musicais, entre ele o Bando de Tangarás, ao lado de João de Barro, o Braguinha, Almirante, Alvinho e Henrique Brito.

As suas primeiras composições, Minha Viola e Festa no Céu não tiveram repercussão, mas o sucesso chegou com o lançamento de Com que roupa?  Inspirada no fato em que sua mãe escondeu suas roupas para ele não sair com os amigos, Noel não deixou por menos e retrucou: – “Com que roupa eu vou?” e a música bem-humorada se tornou clássico do cancioneiro brasileiro.

Noel revelou-se um talentoso cronista do cotidiano escrevendo de improviso, sempre numa mesa de bar as canções recheadas de romantismo e humor, sempre com um autêntico tempero crítico. “Conversa de Botequim” é um exemplo vivo desta sua facilidade em contar estória.  Orestes Barbosa, exímio poeta da canção, o considerava o “Rei das Letras”. Foi contemporâneo de Francisco Alves, o “Rei da Voz”, Ismael Silva e dos parceiros Vadico, Cartola e Carlos Cachaça.

Noel foi protagonista de uma curiosa polêmica travada através de canções com seu rival Wilson Batista. Os dois compositores atacaram-se mutuamente em sambas agressivos e bem-humorados, que renderam bons frutos para a música brasileira, incluindo clássicos de Noel como Feitiço da Vila e Palpite Infeliz. Entre os intérpretes que passaram a cantar seus sambas, destacam-se Mário Reis, Francisco Alves e Aracy de Almeida.

Noel colecionou várias namoradas e foi amante de muitas mulheres casadas. Casou-se em 1934 com uma moça da alta sociedade, Lindaura, mas era apaixonado mesmo por Juraci Correia de Araújo, Ceci, a “Dama do Cabaré”, nome da música inspirada em sua beleza.

A vida boêmia das noites cariocas com samba, bebida, cigarro e mulheres o fez contrair tuberculose e no leito da morte ainda teve tempo de compor um hino da música popular brasileira – “Último desejo”.

Noel morreu em 04 de maio de 1937 aos 26 anos de idade. O genial sambista foi um dos compositores que teve contribuição fundamental na legitimação do samba de morro e no “asfalto”, entre a classe média e o rádio, principal meio de comunicação em sua época.

Por estas e outras razões Noel Rosa é o grande personagem na importante história centenária do samba.

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