E agora, Luiz?
E agora, Luiz? Uma licença poética de Luciano Pires sobre a obra de Carlos Drummond de Andrade. Com todo o respeito.
E agora, Luiz?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, Luiz?
e agora, você?
você que é cheio de nome,
que zomba dos outros,
você que faz pouco,
que ama, protesta?
e agora, Luiz?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, Luiz?
E agora, Luiz?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua patota,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Atibaia,
Atibaia não há mais.
Luiz, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
o pagode de sempre,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, Luiz!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, Luiz!
Luiz, para onde?