Nego Caçador

Publicado em 2/04/2016 00:04

O nosso herói de hoje é Paschoal Comite, conhecido como “Nego Caçador”, a maior referência em termos de “caçada” e excepcional cantor de música popular brasileira, o “Seresteiro da Estância”.
Filho de dona Geraldina Rosa de Lima e seu Miguel Comitt, ferreiro de profissão, nasceu aos 25 de março de 1935, em Ibarra, hoje denominada de Catiguá. De família numerosa, nove filhos, recém-nascido, Paschoal foi morar em Cravinhos. Depois, em Poloni, Monte D’Oro (Itaiuba) e veio para Santa Fé do Sul, em 1949, aos 13 anos de idade.
Justificando a sua fama de caçador, no auge das memoráveis caçadas realizadas na região e no Estado de Mato Grosso, o nosso herói chegou a ter uma matilha de 25 cães. A área de caça do nosso caçador ia até os limites da cidade de Mirassol. Na nossa cidade havia uma região de cerrado de onde é hoje a Santa Casa até a Estação Ferroviária, que Nego, em apenas um dia de caça, abateu pelo menos, sessenta pacas.
Aprendeu o ofício de ferreiro com o pai Miguel e trabalhou muito tempo até a venda do estabelecimento. Foi caminhoneiro, motorista de praça e comerciante. Tinha uma mercearia, justamente onde é a sua casa atualmente, na rua Onze, local de reunião de seus companheiros e amigos da época.
Como seresteiro de Santa Fé do Sul, o seu currículo musical é fantástico. Certa madrugada, Baxiclides Basso, ícone da nossa seresta, estava com o nosso herói fazendo uma serenata na casa de um padre. Foi naquele momento mágico que o “rei” passou a coroa para Nego Caçador finalizar com maestria a música “Ontem ao Luar”. Assim, credenciado em matéria de seresta, Nego foi fazer serenatas com Justino, do violão e Joaquim, do cavaquinho, nas casas que tinham lamparinas e candeias e, por ironia do destino, cantavam músicas com tema de lampião de gás. Na maioria das vezes fazia seresta, sozinho, mas às vezes tinha o acompanhamento luxuoso de Ditão Pintor, maior seresteiro da cidade. Também atuou com brilhantes músicos do naipe de Faustino e Pedro Evangelista, do violão; Alfredo, de Jales e Dico, do violino; João Barba Rala, da guitarrra; Osmar Novaes e Joãozinho, do bandolim; Rubens e Jerônimo Xavier, do violão, Percival Trindade e Lúcia; Alirio; Lusmarina e Nelson; Beto Alcalá, Euricão, Laine, a insuperável cantora; Raimundo Silva, percussionista e João Borges. Fez serenatas nas casas de Hélio de Oliveira, fundador da cidade; Honório Carneiro, professor emérito; Nazareth do Reis, mestre dos mestres e Amaury Aguiar Whitaker, fenomenal violonista. Numa alta madrugada, o Jipão havia entregado o pão e o seu Mané, o leite. O seu companheiro de seresta, Expedito, com aquela fome de leão, foi com sede no embornal daquele café da manhã, quando de repente, o dono da casa abriu a porta. O seresteiro, cordialmente disse: – Bom dia patrão, só tô entregando o pão!
O serviço de alto-falante “Cacique do Ar”, do carismático Nestor Machado, realizou muitos casamentos na cidade, mas um deles foi especial, porque o pretendente, não era menos um “cantador”, decorou a música que tinha como inspiração a donzela Dulcelina e numa seresta nupcial conquistou o seu coração. Desta feliz união nasceu Marilu Aparecida, a querida princesa do castelo. Com o falecimento de Dulcelina Maria da Silva, o nosso herói se casou em 7 de dezembro de 2002, com Cleonice Maria da Silva e vive muito feliz. É motivo de nostalgia a Barraca do Nego Caçador, no Pé do Jatobá, desde a primeira Ficap e o pioneirismo das festas juninas de rua, que foram mais tarde organizadas pela sua irmã Maria Rosa, a querida Bituca.
O aniversário do Nego Caçador no Sábado de Aleluia é tradição de mais de 40 anos. Neste dia se reúnem parentes, amigos e grupos musicais de todas as categorias. Quem se lembra do evento é bem-vindo, não há convite, há manifestação de muita alegria, carinho e amor. Não é todo dia que podemos homenagear um herói de 81 anos, que antes de tudo, luta para uma vida melhor para as pessoas.

 

 

 

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