SOLIDÃO
Quem não conhece esta senhora? Quem nunca se sentiu sozinho no meio da multidão de um shopping, naquela comemoração estonteante com homens e mulheres rindo, dançando, parecendo felizes? Quem nunca olhou em volta sentado na mesa de um bar e percebeu que não conhecia nenhuma daquelas pessoas que erguiam as taças para brindar sei lá o que?
Os religiosos afirmam que quem está com Deus nunca está sozinho. Deve ser. Não discuto. Mas, mesmo tendo a crença como suporte, tem horas que o indivíduo quer falar, ser ouvido e obter respostas.
Precisamos de palavras, de consolo, de colo quente, de ombro amigo, de mãos macias acariciando nossos cabelos num gesto de conforto.
A solidão às vezes dói tanto quanto uma saudade. Não falo aqui daquela solidão necessária da qual todos deviam se aproveitar para um encontro com si próprio. Um encontro com o Self. Aqueles momentos que até os mais iluminados necessitam para refletir sobre si, sua vida e sobre o mundo. Essa solidão é bendita.
A solidão que dói é aquela na qual você mergulha ao perceber que à sua volta todos estão sozinhos, envoltos em suas próprias solidões. Quando você quer dividir e os que lhe cercam querem subtrair e justo aquele alguém do qual se espera um colo encontra-se longe, ali do seu ladinho, com o olhar perdido no tempo, como se também buscasse alguém que lhe tirasse da solidão.
Na grande maioria das vezes, gosto de ficar sozinha. Não ouvir sequer a minha voz ou perceber minha presença no espelho. Volto para o casulo da minha consciência para sentir se esta tranquila e sem medos ou culpas. Em outros momentos, gosto do som das gargalhadas, mesmo que vazias, dos amigos que me cercam. Ouço suas vozes estridentes junto com a minha e percebo que gritamos porque estamos distantes, mesmo ombro a ombro.
Solidão é igual à saudade. Ás vezes é bom sentir, desde que não vire hábito, tristeza e nos piores casos depressão.
A solidão pode ser doce e nos curar do barulho às vezes insuportável que o mundo faz. Mas tem que ser nossa opção, e não uma condição criada por comportamentos equivocados que afastam de nós aqueles que nos amam, e aí fica ao nosso lado só a saudade que, nestes casos, não tem nada de doce.