Gatos pingados VS gatos do governo

Em meados de agosto do ano passado, um grupo da sociedade civil da cidade de Jacarézinho, no Paraná, composto por alguns poucos cidadãos, decidiu se unir para protestar contra a Câmara Municipal daquela cidade, que pretendia aumentar o número de vereadores de nove para treze.
As primeiras tentativas de protesto do grupo foram ironizadas por um vereador, que os acusou de serem apenas um “bando de gatos pingados”.
A provocação do vereador acabou por dar força ao grupo, que conseguiu formar o Observatório Social Todo Poder Emana do Povo, um movimento apartidário criado para reprimir medidas descabidas e imorais daquela Câmara Municipal.
O grupo, que cresceu constantemente, dia após dia, resolveu assumir não apenas a identidade depreciativa sugerida pelo vereador, de “gatos pingados”, mas também algo muito peculiar ao gênero: o miado.
Pois, um grupo que foi desacreditado e ironizado por aqueles que deveriam ouvir, entender e respeitar a voz soberana do povo, acabou por conquistar, à base do “miado”, que é o que marca a presença do grande número de participantes do mesmo nas sessões da Câmara Municipal, diversas alterações no rumo de pautas, votações e aprovações no legislativo municipal.
A atuação dos “gatos pingados” ganhou repercussão nacional, tendo sido mostrada, inclusive, em telejornais como “Jornal Hoje” e “Jornal Nacional”, ambos da Rede Globo de Televisão, além de terem notícias e artigos publicados a seu respeito em jornais de grande renome como o “Estadão”, por exemplo.
Já conseguiram, há muito tempo, barrar o aumento de número de vagas de vereadores. Ainda, de quebra, pressionaram e ocasionaram a diminuição do salário dos vereadores para o próximo mandato, que começa no ano que vem.
Recentemente voltaram as grandes mídias, após manifestarem-se valentemente contra a ameaça dos vereadores de voltarem atrás contra essa diminuição.
Tudo isso apenas com irônicos e marcantes “miados” – literalmente, mesmo – durante as sessões plenárias.
O motivo é muito simples: os vereadores, assim como o prefeito, sabem o poder que um simples “miado” do povo possui.
Do povo organizado, frise-se.
Portanto, importantíssimo refletir acerca deste acontecimento para enxergar a situação que atualmente enfrentem os servidores públicos municipais de Santa Fé do Sul.
Um grupo forte, sério e comprometido, apareceu na cidade para tentar auxiliar os servidores a ir na busca por seus direitos.
Alguns entendem – ou, pelo menos, dizem que sim – a necessidade e o direito dos servidores.
Contudo, existem aqueles que “zombam”, abertamente ou nas entrelinhas – ou, às vezes, nos grupos de WhatsApp – da intenção dos mesmos em buscarem o seu reconhecimento e a sua dignidade.
Neste momento, mesmo diante de qualquer desavença ou descrédito, precisamos nos lembrar deles: dos gatos pingados.
Aqueles poucos que idealizaram algo, foram desacreditados, mas conseguiram se organizar e hoje concretizam o poder que sempre possuíram e que, de fato, emana deles, sendo que tão simplesmente não sabiam utilizá-lo.
Por isso, a todos vocês servidores municipais, trabalhadores, ou cidadãos comuns, nunca se esqueçam: a união realmente traz uma força incomum e incalculável.
Não importa se são poucos no começo, o importante é não deixar calar a voz que emana de dentro de vocês. O importante é não deixar de lutar por aquilo que vocês acreditam. Mesmo que seja simploriamente. Mesmo que seja convencendo um a um. Mesmo que seja com um simples miado.
Duas coisas são certas: a primeira é que o seu “miado”, por mais que não pareça, pode colocar medo em muita gente; a segunda é que, independentemente de qualquer resultado, no fim do dia você estará com a consciência tranquila, sabendo que bebeu somente do leite (sustento) que você tinha por direito, e que foi produzido com o seu próprio trabalho e esforço.
É um luxo que a dignidade dos “gatos pingados” lhes permite ter.
É algo que, muitas vezes, os “gatos do governo” nunca poderão experimentar.