HÁBITO DA FOFOCA
O hábito do ser humano de falar mal da vida alheia não é de hoje. Desde a antiguidade até mesmo os filósofos costumavam falar da vida uns dos outros. Era suficiente que as ideias não combinassem para que o “disse me disse” se tornasse usual.
Quando você fala mal comigo de uma terceira pessoa estabelece uma espécie de aliança entre ela, eu e você. Aquela pessoa passa a fazer parte da sua vida e você da vida dela, geralmente de uma forma não amigável mesmo que não seja explícito.
A internet tornou este hábito mais intenso nos dias atuais. Há um lado positivo, mas a negatividade da questão vem do fato de que qualquer pessoa inscrita numa rede social torna-se especialista em tudo, de política a medicina, e, por não ter fisicamente presente o alguém de quem quer falar mal, passa a expor seus sentimentos e opiniões sobre esse alguém. Em nome da liberdade de expressão, as pessoas acham-se no direito de falar sobre tudo e todos.
As palavras ditas de forma maldosa ferem inclusive a mim quando você fala de alguém de quem gosto ou simplesmente me relaciono. Queremos o direito à liberdade de expressão, mas não respeitamos o sentimento que nossas palavras vão causar.
Na grande maioria das vezes, nossos comentários, ironias, charges e outras formas de expressão são uma arma que usamos contra aqueles sobre os quais não temos nenhum poder ou influência.
Na área da política, as pessoas dão mais relevância à vida pessoal de um candidato do que aos seus planos de governo. Isso faz com os mesmos tenham que aparecer em público com uma família, tipo propaganda de margarina: A esposa sorridente, dois filhos (de preferência brancos), beijar a esposa nos lábios respeitosamente, acariciar a cabeça das crianças e começar seu discurso afirmando que a família é tudo, mesmo que a amante esteja na plateia e os filhos não recebam um afago em casa há meses.
A partir do momento que eu considero você o mal e eu sou o bem, por enxergar em você qualquer tipo de comportamento sobre o qual eu discordo, não dá pra discutir nem política, nem religião, nem diferenças sexuais, raciais ou sociais. O indivíduo não consegue admitir que seus preconceitos, são exatamente o que encontram-se dentro de dele de uma forma não assumida.”Quando Pedro fala de Paulo fala mais de Pedro que de Paulo. Quando você fala de mim e me acusa de alguma coisa, segundo os psicólogos e doutores na área, você encontrou essa coisa dentro de você mas não a aceita, então fala de mim.
A homofobia, quer queiram ou não, é o choque entre dois homossexuais: o que se aceita e o que não se aceita. Quando falo mal de alguém eu exponho meu sofrimento e as minhas dores. Ao apontar o dedo para criticar alguém há três dedos apontando para as minhas mazelas. O que eu falo do outro é um raio X do meu interior.
Talvez a mulher seja mais vítima da fofoca porque sempre foi objeto do preconceito. Simplesmente por ser mulher. Diante de um casal, é mais fácil reparar no excesso de peso da mulher do que na proeminente barriga do homem ou de sua calvície que pode até ser considerado um charme.
A verdade, se é que ela existe, é que o hábito de falar mal nada mais é que os nossos desejos expressos através do preconceito. Preconceito este que de uma forma ou de outra dói gerado num ninho ignorância e medo de enxergarmos o que e quem realmente somos.