O político perfeito

Publicado em 30/09/2016 00:09

Um político, seu cavalo e seu cão viajavam por uma estrada.
Depois de muito caminhar, o cavaleiro se deu conta de que seu cavalo e seu cachorro haviam morrido num acidente.
No circo da vida às vezes os mortos levam algum tempo para se dar conta desta nova condição…
Mas a caminhada era muito longa, morro acima, o sol era forte e eles ficaram suados e com muita sede.
Precisavam desesperadamente de água.
Numa curva do caminho, avistaram um portal magnífico, todo de mármore, que conduzia a uma praça calçada com blocos de ouro, no centro da qual havia uma fonte de onde jorrava água cristalina em abundância.
O caminhante dirigiu-se ao porteiro da guarita que guardava a entrada.
– Bom dia, ele disse.
– Bom dia, respondeu o guardião.
– Que lugar é este, tão lindo? Ele perguntou.
– Isto aqui é o Paraíso, foi a resposta…
– Que bom que nós chegamos ao Céu, estamos com muita sede, disse o viajante.
– O senhor pode entrar e beber à vontade, disse o guarda indicando-lhe a fonte.
– Meu cavalo e meu cachorro também estão com sede.
– Lamento muito, disse o porteiro.
– Aqui não se permite a entrada de animais.
O homem ficou desapontado porque sua sede era grande. Mas ele não beberia, deixando seus amigos com sede.
Assim, prosseguiu seu caminho.
Depois de muito caminharem morro acima, com sede e cansaço multiplicados, ele chegou a um sitio, cuja entrada era marcada por uma porteira velha, semi aberta.
Um rajar de vento fez a porteira se abrir para um caminho de terra com árvores dos dois lados que lhe faziam sombra.
À sombra da alameda havia um homem deitado, cabeça coberta com um chapéu, parecia que estava dormindo.
– Bom dia, disse o andarilho.
– Bom dia, disse o lavrador.
– Estamos com muita sede, meu cavalo, meu cachorro e eu.
– Há uma fonte naquelas pedras, disse o agricultor indicando o lugar.
– Podem beber à vontade.
O homem, o cavalo e o cachorro foram até a fonte e mataram a sede.
– Muito obrigado, ele disse ao sair.
– Voltem quando quiserem, respondeu o rural.
– A propósito, disse o político, qual é o nome deste lugar?
– Céu, respondeu o sertanejo.
– Céu? Mas o rapaz da guarita ao lado do portão de mármore disse que lá era o Céu!
– Aquilo não é o Céu, aquilo é o Inferno!
O viajante ficou perplexo.
– Essa informação falsa deve causar grandes confusões por aqui, hem?
– De forma alguma, respondeu o sitiante.
– Na verdade, eles nos fazem um grande favor, porque lá ficam aqueles que são capazes de abandonar até seus melhores amigos…

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