Seis dicas para o Eureka
Em 2001 o neurocientista da Universidade de Washington, Marcus Raichle, observou cérebros em estado de descanso e descobriu que havia algo acontecendo numa parte escondida, lá na área do inconsciente. Ele descobriu uma febril atividade que queimava 20 vezes mais recursos metabólicos, combustível, que o cérebro consciente.
Raichle concluiu que os circuitos teoricamente em repouso do cérebro são paradoxalmente ligados quando você para de pensar e entra em repouso. Sua consciência repousa, mas a maquininha lá no fundo está a mil. É como o Windows, com centenas de tarefas rodando em segundo plano. E é ali, naquela área livre que empregamos as melhores mecânicas criativas.
O cérebro é considerado uma máquina de predição. Ele lida com as ideias e sentimentos quase sempre da mesma forma, construindo modelos de tudo que espera que aconteça, faça e sinta, e rapidamente recalcula as coisas quando está diante de uma novidade. Entendeu? O cérebro tenta transformar tudo em rotina, em hábitos, pois assim economiza energia.
Mas no subconsciente isso não acontece. Nele as ideias estão ativas, em turbilhões de conexões, filtragens e cruzamentos, até que de repente… Eureka! Surge a ideia, a solução, a inspiração!
Eu chamo isso de cozinhar as ideias. Quando estou lidando com problemas complexos, ou mesmo escrevendo um podcast, costumo deixar as ideias fluírem e depois boto o texto pra descansar e vou pensar em outras coisas. E sempre, eu disse SEMPRE, aparece uma ideia num momento que nada tem a ver com aquele texto. Surge o eureka e eu mando um e-mail pra mim mesmo com a dica que será incorporada ao texto na primeira oportunidade. E isso acontece até quando estou dormindo…
Com você não deve ser diferente.
O segredo então é acumular informação para que o subconsciente possa trabalhar com ela. O eureka de Arquimedes na banheira, por exemplo, aconteceu depois de muuuuito tempo de reflexão. A experiência por ele acumulada estava sendo trabalhada em seu íntimo e observar a água foi o gatilho. Mas havia muita experiência e reflexão acumulada.
Acumule informações, dados, de todas as formas possíveis, reflita sobre o problema e deixe seu cérebro descansar. Mas lembre-se: se você acumular dados demais, ficará indefinidamente perdido num tsunami de informações. E se acumular dados de menos, sentirá falta para tomar as decisões acertadas. Achar o equilíbrio é o segredo, que surgirá com a prática.
Será que dá então para provocar a inspiração, o insight, o eureka? Bem, vamos lá com umas dicas simples que sempre funcionam comigo.
Desligue-se do problema. Pare para refletir. Saia fora do tiroteio. Dê tempo para o cérebro ativar o inconsciente.
Mexa-se. Vá fazer um exercício, ande. Faça com que o cérebro preste atenção em seu corpo deixando em paz a área inconsciente, que vai trabalhar no problema.
Saia do ambiente. Vá para outro lugar, viaje, visite um museu, distraia a atenção do problema e se exponha a estímulos. Arquimedes teve o eureka tomando um banho.
Leia, assista, ouça coisas. Podcasts, por exemplo. Recentemente publiquei o depoimento de um ouvinte que teve um eureka ouvindo o programa, e a partir dali mergulhou num projeto que certamente mudará sua vida. Mas ele se expôs a algo fora de sua casinha, sacou?
Tome nota. Desenhe. Rabisque. Eu sou maníaco por rabiscar, anotar e um dia olhar para aquele monte de coisas aparentemente sem sentido e fazer uma conexão.
E por fim, preste atenção nos sinais de seu inconsciente. Acredite neles. E parta para a ação. Aceite esses sinais como uma missão dada. E cumpra. Mesmo que a ideia não esteja completa.Faça simples, deixe que as pessoas usem e depois sofistique. É claro que isso vale para mim, que trabalho com conhecimento.
Resumo: abra a porta para o subconsciente, curta as inspirações malucas, acostume-se a fazer conexões.
Louis Pasteur uma vez disse que “a sorte favorece a mente preparada”.
Boa sorte.