Tudo é uma questão de perspectiva
Durante um curso sobre técnicas de aprendizado da Universidade da Califórnia (UC), o qual conclui na última semana, ouvi um dos professores, o Dr. Terrence Sejnowski, narrar uma história interessante que ocorreu com um dos seus amigos, o cientista e pesquisador Francis Crick, falecido em 2004.
Segundo Terrence, um dia ele e Francis estavam em uma das salas da UC conversando quando, de repente, o Dr. Crick subitamente olhou para um modelo de cérebro humano que há décadas está naquele local e disse: “Terrence, você sabe que só recentemente descobri que esse cérebro é muito maior que um cérebro real?”.
De fato, o cérebro apontado pelo pesquisador era muito maior que um cérebro humano, especialmente pelo fato de que era feito para tornar possível que estudantes de Medicina o desmontassem e aprendessem sobre as suas várias partes.
O curioso nesse ocorrido está contido em dois aspectos: primeiro porque Francis Crick não era um cientista e pesquisador qualquer, mas o ganhador, juntamente de James Watson, do Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1962, em razão de ter descoberto a estrutura da molécula de DNA; segundo porque o que tornou possível Francis chegar aquela conclusão, não foi nada relacionado a sua inteligência ou experiência no estudo da ciência, mas simplesmente o fato dele ter olhado para aquilo de um novo jeito, sob uma nova perspectiva.
Isso nos leva a reflexão de que, independentemente da nossa sabedoria ou convicções, a qualquer momento podemos ser surpreendidos pela nossa consciência de que algo não era bem como havíamos imaginado ou exatamente o que pensávamos ser.
Por isso, devemos ter um cuidado primordial de sempre, em todas as circunstâncias, tentar enxergar as situações, boas ou ruins, sobre uma nova perspectiva, ultrapassando aquela primeira, que é superficialmente gerada pelo nosso consciente.
Aquilo que acreditamos ser uma vantagem absoluta, pode se revelar um erro, bem como aquilo que acreditamos ser um erro absurdo, pode se revelar benéfico e/ou necessário.
Tudo depende da nossa capacidade de olhar para as coisas de um novo jeito.
Isso se aplica especialmente acerca das pessoas com as quais convivemos, uma vez que, segundo o estudo do brilhante sociólogo polonês, recentemente falecido, Zygmunt Bauman, vivemos uma “modernidade líquida”, representada, em uma das partes, pela vulnerabilidade e fluidez das relações sociais, cada vez mais temporárias.
Assim, ao invés de simplesmente “trocarmos” o(a) amigo(a) por outro(a), certamente é muito mais cauteloso – e sábio – buscar entender as reais motivações de suas atitudes e, principalmente, como as coisas são sob a perspectiva dele ou dela, utilizando, para isso, a mudança do nosso próprio modo de enxergar as coisas.
Descobridores ou não do DNA, todos temos muito que aprender. Sempre.
Afinal, tudo é uma questão de perspectiva.