Lugar de mulher também é na construção civil
Por Lelo Sampaio e Silva
Por vezes, tirando o salto alto e abrindo mão da maquiagem, as mulheres que buscam emprego na construção civil adotam roupas mais “surradas” e não têm medo dos respingos de cimento ou tinta.
Por melhores salários, possibilidade de crescimento profissional e a sensação de liberdade em relação aos homens são os principais atrativos desse mercado para as mulheres.
Adriana Silva é uma delas. Abandonou os serviços de cozinheira e de bartender, e hoje desce e sobre escadas; sela, amacia, lixa, faz reboque, texturas e pinta paredes de residências; ajuda na escolha das tintas, carrega o latão, dentre os mais variados serviços de pintura e, talvez, em Santa Fé, ela seja a única mulher a realizar esse tipo de serviço.
Hoje, segundo ela, geralmente as casas têm uma cor na parte interna e outra na externa. “Se andarmos pela cidade, embora o mais comum seja a cores gelo e camurça, observamos algumas pessoas mais ‘corajosas’ que optam pelo lilás, laranja, rosa, limão”, disse.
Por quase dez anos Adriana trabalhou no ramo de restaurantes, sempre à noite; e depois, por três anos, continuou no ramo da culinária produzindo pratos para entrega em domicílios.
“Sempre gostei do ramo da construção civil, até porque antes já fazia alguns serviços esporádicos, como no Santô Silmara. Há aproximadamente seis meses, conheci um profissional do ramo da construção civil que, aliás, é pintor, pedreiro, eletricista, que acabou me chamando para trabalhar com ele”, disse.
Ela explicou que está trabalhando em uma casa há três meses, haja vista que havia a necessidade de ser feito o acabamento. “Tão logo pintei o portão ele me ensinou a amaciar paredes, já amaciei toda a casa e agora já estou aprendendo a assentar pisos”, explicou.
No momento ela está trabalhando sozinha, mas afirmou que já chegou a trabalhar em obras com pelo menos cinco homens.
Sobre a reação dos pedreiros, serventes e pintores, ela explicou que, em princípio eles ficaram um pouco ressabiados, segundo ela, talvez por desconfiança ou excesso de cuidado. “Em um ambiente essencialmente masculino, como o da construção civil, quando chega uma mulher para trabalhar, eles se sentem um pouco incomodados por não saberem lidar com essa situação, que, para eles, até então, nova”, explicou.
A pintora disse também que nas obras em que trabalhou nunca houve brincadeiras ou desrespeito por parte dos colegas de trabalho.
Embora goste de trabalhar em restaurantes durante a noite, Adriana afirmou estar muito feliz nessa nova empreitada, principalmente do ponto de vista financeiro.
“Embora o trabalho na construção seja mais cansativo, fisicamente falando, uma vez que subimos e descemos escadas, ficamos em andaimes, é muito relaxante, e sinto muita tranquilidade enquanto estou pintando”, disse.
Ela, por ser mãe de três crianças, não cumpre o expediente corriqueiro, das 7:00 às 17:00 horas. Cumpre às oito horas de trabalho, mas, às vezes, para no horário do almoço e volta à noite. “Meu trabalho hoje é extremamente flexível, o que facilita muito para eu cuidar dos meus filhos”, explicou.
Embora não tenha formação acadêmica, ela também dá seus “pitacos” na decoração de interiores, como quando o assunto são cores de paredes, móveis, dentre outros serviços da área, além de restaurar objetos de casa.