Tópicos da Semana – Edição de 25/02/17
Por Mário Aurélio Sampaio e Silva.
Charge: Leandro Gusson (Tatto).
É Carnaval
Estamos em festa, uma festa onde tudo pode acontecer, e como!!! Hodiernamente, dizem que o Carnaval é a alegria do povo, é a festa de muita farra e de folia, folia esta que nos faz esquecer dos problemas do dia-a-dia. São cinco dias, e em algumas localidades do país até por durante quase um mês, quando as pessoas não têm problemas, “não sofrem” com as desigualdades sociais, “todos são iguais”, a corrupção se exaure, o mundo fica azul, tudo fica numa boa. Somos todos iguais.
Como ficamos?
O Brasil para, tudo para, e a grande maioria das pessoas se transforma numa espécie de bobos-da-corte, cujo papel é fazer seus superiores rirem de suas desgraças. Transformamo-nos em palhaços dos nossos próprios infortúnios, tudo em nome dos prazeres, sejam eles da carne ou de qualquer outra espécie.
Agora pode!!!
Como qualquer ser humano, precisamos de pão e circo, e o Carnaval é a época em que nos livramos, momentaneamente, das vicissitudes do dia-a-dia. Embora em muitos lugares o Carnaval tenha virado sinônimo de “beijaço”, de “pegação”, álcool e, de preferência, muitas drogas, ainda prevalece em nós o clima festeiro. Afinal somos o país do Carnaval, do clima tropical, do corpo pelo corpo, é o erotismo pelo erotismo, é a vulgaridade pela vulgaridade.
Tupiniquim
O irônico disso tudo é que as manifestações carnavalescas de hoje, também na maioria das vezes, são essencialmente escandalosas, em contradição ao nosso caráter festivo, alegre e cheio de vida. Parece que nesta época mostramos uma imagem muito aquém da que queremos exportar. Exorcizamos o desamor, a má sorte, a incompetência, a pobreza e os constantes insucessos nacionais pela ebulição desenfreada, pela catarse, pela explosão do que pretendemos, do que almejamos, do que acreditamos ser nossa razão primeira, nossa identidade, nossa cara, nosso jeito de viver. Precisamos rever nossos conceitos.
Que presente!!!
A partir de março, 33 milhões de brasileiros vão botar a mão no dinheiro das contas inativas do FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço-. Que beleza!!! Uma recente pesquisa realizada pelo Google Consumer Research ouviu 1.344 pessoas para saber o que elas farão com esse dinheiro, ao todo quase R$ 44 bilhões. Como diz a música do saudoso Ataulfo Alves: Laranja madura na beira da estrada, tá bichada, Zé, ou tem marimbondo no pé.
Entregue a nós
Ao que parece o Governo criou mais um canal direto entre o Fundo e cofres bancários, disfarçando a tramoia de “socorro aos trabalhadores”. Ao invés dele usar o dinheiro em caso de demissão ou até mesmo para comprar a casa própria, a grandessíssima maioria dos trabalhadores, “socorridos pelo querido Governo”, o dinheiro será liberado para que o sujeito faça o uso do mesmo como quiser, como quiser, vírgula, quase que a totalidade desse dinheiro será entregue aos bancos, como um presente milionário.
Oras
Segundo a mesma pesquisa, 42% dos entrevistados irão pagar dívidas, 10% vão quitar algum financiamento, 20% irão investir, 10% das pessoas usarão o dinheiro para pagar estudos e 13% para fazer compras, ou seja, mais da metade vai usar para pagar dívida e somente 13% desse dinheiro vai para o consumo, e, como a maioria das contas têm pouco dinheiro, abaixo de R$ 3 mil, a projeção é que muito desse dinheiro irá para compras pequenas, como supermercado etc.
Venha a nós
A pesquisa do Google ainda aponta que 53% pretendem usar o saldo assim que ele estiver disponível, ou seja, não vai dar nem tempo da grana esquentar no seu bolso. Pingou na conta, já vai pra pagar dívida, limpar o nome, pra poder fazer novas dívidas. Caso a pessoa se enquadre nos 20% que pretendem investir, o dinheiro irá provavelmente para a poupança. Resumindo: De qualquer forma, o destino final dessa grana é nos bancos.
No vermelho
O tipo de dívida mais comum dos brasileiros é a do cartão de crédito. Segundo a Federação de Comércio do Estado de São Paulo, em janeiro deste ano, em São Paulo, ela representa 71,4% das dívidas dos consumidores, seguida do financiamento de carro, carnês, crédito pessoal, financiamento de casa, cheque especial e crédito consignado, ou seja, quem não tem dinheiro vive e morre pagando juros neste país, que, alias, são os mais altos do planeta.
Se correr, o bicho pega
Quem compra à vista paga juro embutido. Quem compra em muitas prestações acaba pagando três, quatro vezes por sua geladeira, seu celular, a conta do supermercado. Quem fica devendo muitas vezes não sai nunca mais. Temos os juros de cartão de crédito mais insanamente altos do mundo. Em 2016, chegou a 459% ao ano.
O pobre brasileiro paga mais juros que o rico. Como paga mais impostos que o rico. Uma pesquisa de setembro de 2016 afirmava que do total das famílias brasileiras, 21% têm mais da metade de sua renda comprometida com o pagamento de dívidas. Quem? Justamente os brasileiros mais pobres. O que sobra não dá pra nada, claro.
Se ficar, o bicho come
Segundo o próprio governo, 87% das contas inativas têm dinheiro abaixo de um salário mínimo, R$ 880,00. É essa gente pobre que vai usar seu FGTS para pagar dívidas. Falando em juros, não são somente as pessoas físicas que sofrem com eles. As empresas também, principalmente as micro, pequenas e médias, que não têm acesso aos ricos cofres dos governos, como essas construtoras todas da Lava-Jato. Não é por outra razão que 2016 teve recorde de pedidos de recuperações judiciais.
Haja dinheiro!!!
Haja dinheiro para se manter hoje neste país, seja como pessoa física ou jurídica.
Os itens dos supermercados estão pela “beira da morte”, e as empresas praticamente vivem para pagar infindáveis impostos. Somos o país dos impostos, e dos impostores, é claro.