Zolpidem: os preocupantes efeitos colaterais do remédio que virou moda entre os jovens
Medicamento para indução de sono é seguro quando usado por um tempo limitado e com acompanhamento. O consumo prolongado dele pode causar tolerância, dependência e surtos de alucinações ou sonambulismo, alertam médicos.
Nas primeiras horas da madrugada, o nome de um medicamento costuma virar assunto frequente nas redes sociais.
“Ideia de encontro: tomar zolpidem juntos para ver quem alucina mais e apaga primeiro”.
“Na noite passada, tomei zolpidem e picotei meu cabelo todinho.”
“Tomei quatro comprimidos de zolpidem agora e me deu vontade de comprar uma lhama.”
Relatos como esses, publicados num intervalo de poucas horas no Twitter, mostram como um remédio desenvolvido para tratar a insônia virou um fenômeno cultural, especialmente entre os mais jovens.
Lançado no início dos anos 1990, o zolpidem é um fármaco da classe dos hipnóticos (para indução do sono) que deve ser usado por um curto período — no máximo, quatro semanas — por quem tem dificuldades para dormir ou manter o sono por um tempo adequado.
De acordo com médicos ouvidos pela BBC News Brasil, o uso dele tem se popularizado além da conta — o que abre alas para efeitos colaterais preocupantes e quadros de dependência.
Interruptor desligado
O zolpidem atua num receptor dos nossos neurônios e mexe com um químico cerebral chamado ácido gama-aminobutírico, também conhecido pela sigla Gaba.
“Isso, por sua vez, promove uma cascata de eventos que faz a gente ficar sedado e dormir”, explica a médica Sonia Doria, do Instituto do Sono, em São Paulo. “É como se nosso cérebro tivesse um interruptor e o zolpidem apertasse o off para desligá-lo”, compara.
Quando dormimos naturalmente, esse processo acontece devagar: aos poucos, o cérebro vai relaxando e se desconectando da realidade, até entrarmos no estado de sono. O zolpidem faz isso de uma maneira rápida e abrupta — o que é temporariamente bem-vindo para pessoas que não conseguem dormir de jeito nenhum. Mas o uso desses comprimidos tem uma indicação bem clara e precisa. Nesses casos, o tratamento acontece por um curto período, que chega no máximo a quatro semanas.