Produções simbólicas
Patrick Snay, 69, era diretor da Gulliver Preparatory School em Miami, Florida. Quando seu contrato de trabalho não foi renovado para o período 2010/11, processou a escola por discriminação etária. Acharam que ele estava velho demais para o cargo. Em Novembro de 2011 ele e a escola entraram em acordo. Snay receberia US$10.000 em salários atrasados, uma indenização de US$80.000 e mais US$60.000 para seus advogados.
Mas antes que a tinta do acordo secasse, a filha de Snay postou para seus 1.200 amigos no Facebook o seguinte: “Mamãe e papai ganharam a causa contra a Gulliver. A Gulliver agora está oficialmente pagando minhas férias de verão na Europa. SUCK IT.”
“Suck it” é nosso popular “chupa”. O post foi visto por dezenas de estudantes da Gulliver, chegando à diretoria da escola que alegou quebra da cláusula de confidencialidade. E o Sr. Snay perdeu os 80 mil dólares…
A filha de Snay tinha 1.200 amigos no Facebook. Você consegue imaginar alguém em contato com 1.200 amigos em 1990? 1980? 1970? Impossível. Não havia como fazê-lo, estávamos limitados a quem conseguíamos alcançar por carta, telegrama, telefone e email. Ninguém conseguia se comunicar diretamente com 1.200 pessoas com um simples toque numa tecla. Essa capacidade surgiu quando os Facebooks tornaram-se acessíveis. E isso é uma maravilha.
Com 100 curtidores, amigos ou seguidores, você já é um potencial formador de opinião, alguém capaz de contribuir positivamente compartilhando opiniões e conhecimento, coisa que só jornalistas e escritores podiam fazer, indiretamente, pouco tempo atrás. Mas com essa capacidade vem uma coisinha chamada responsabilidade, que muita gente relega para segundo plano. Especialmente os mais jovens.
Em minha palestra O Meu Everest falo de duas palavrinhas que tem tudo a ver com essa questão da responsabilidade: impacto e influência. Que impacto causo nas pessoas com as quais tenho contato? Que influência exerço sobre elas? Se eu fizer isto, o que é que vai acontecer na sequência? E se eu fizer aquilo, que reação terão as pessoas afetadas? O que aconteceu antes da minha tomada de decisão? O que acontecerá depois? Impacto e influência.
Não sei como você faz, eu ajo assim: sempre que vou tocar no botão “enter” para enviar um email, publicar um post, terminar um texto, releio tudo que escrevi e presto atenção no meu estômago. Se ele gelar, eu leio de novo e mais uma vez. Imagino que sou outra pessoa lendo aquilo. Se me sentir incomodado, deixo de lado para reler mais tarde, suavizando alguma passagem mais dura, complementando uma informação, revendo algum conceito ou simplesmente desistindo da postagem. O exercício é de responsabilidade moral: estou tratando as outras pessoas da forma como gostaria de ser tratado por elas? A filha do Sr. Snay não tomou esse cuidado. Ela tripudiou sobre a escola, achando que estava falando com um grupo de amigos. E estava mesmo, mas num ambiente onde sua falta de responsabilidade moral virou falta de responsabilidade legal. E deu no que deu.
Com os “Facebooks” à mão, você é muito mais poderoso do que pensa. Mas poder traz responsabilidades.
Você tem a força. Cuidado com ela.