“Vim para Santa Fé para ficar um ano, mas fiquei uma vida”
Por Daniela Trombeta Dias
A entrevistada desta semana é Dona Édela Morelli de Paula, viúva de Jerônimo de Paula, mãe de Evandro de Paula (in memoriam); Jerônimo de Paula Filho e Édela Eloisa de Paula.
Ela contou que há 50 anos chegou a Santa Fé. “Eu tinha 21 anos, era solteira e vim sozinha para lecionar e aqui não conhecia ninguém. Vim para ficar um ano e acabei ficando uma vida inteira”.
Édela nasceu na cidade de Paraíso, próximo a Catanduva. “Naquela época a gente se formava e tinha que trabalhar, então comecei minha carreira no magistério. Ao chegar aqui, conheci o professor Jerônimo e, após 11 meses, nos casamos”.
No começo de 1966, nasceu o primeiro filho do casal, Evandro. “No final deste mesmo ano, Jeromão, como era conhecido meu marido, se candidatou a prefeito de Santa Fé e foi eleito. Naquele tempo, a esposa do prefeito não era afastada do cargo para trabalhar com o marido; então eu lecionava, cuidava da minha casa, do filho e ainda da parte social da cidade, e tínhamos ainda as reuniões politicas que antes aconteciam nas casas, e em minha residência ficaram realizadas muitas delas”.
Contou que Santa Fé não tinha asfalto, nem água encanada. “Os poços ficam dentro dos quintais, assim como as foças. Por isso, as crianças viviam com desinteira. Quando chegavam muitas visitas em casa, a água do poço acabava. Era tudo muito difícil”.
Ela sempre trabalhou. Em 1969 passou a ser diretora do curso primário, anexo à escola Itael de Mattos. Também foi presidente da Casa da Criança. “Depois, o Jerônimo foi reeleito e naquela gestão nasceu o Jerônimo de Paula Filho. Meu marido estava na construção da represa de água de Santa Fé e eu fui sozinha dirigindo em um Volks para a Santa Casa. Quando ele chegou, na hora do almoço, meu filho já tinha nascido. Não é só de hoje que a mulher trabalha fora. Eu, até me aposentar, cuidei da casa, dos filhos e ainda lecionei, enquanto meu marido ficava na Prefeitura e na fazenda”, disse.
Édela foi posteriormente assistente de diretor da Eepim, onde permaneceu por 11 anos; depois, foi diretora em Santa Rita D’Oeste, em Três Fronteiras e, por último, na escola Cirley Volpe Lopes, onde se aposentou.
“Quando estava em Três Fronteiras, e dez anos e meio após meu filho Jerônimo nascer, tive minha caçula, Édela Eloisa”.
Desde que se aposentou, ela passou a ser voluntária no Grupo da Terceira Idade, ensinando bordado, primeiramente no bairro Vila Mariana. Atualmente ela exerce essa função no Parque Ecológico Mário Covas, através da Unati – Universidade Aberta a Terceira Idade -.
“Minha maior e mais triste perda foi o meu filho Evandro, que faleceu aos 25 anos. Apesar do grande sofrimento, consegui continuar pensando que ainda tinha dois filhos em minha responsabilidade. Há seis anos faleceu meu marido e depois de sua morte tive que assumir a administração da fazenda que fica em Paranaíba, onde crio gados. Para lá vou de 15 em 15 dias, salvo quando, por alguma necessidade, preciso voltar em um tempo menor. Graças a Deus consegui continuar com o que ele deixou. Acredito que tenho toda esta força e garra porque tenho muita confiança em Deus, pois sem Ele não teria foco para poder passar lidar com todas as adversidades da vida”.
Ainda segundo ela, a maioria das mulheres trabalha fora; porém, não é como antigamente. “As mulheres de hoje não têm a vida que eu tive em minha mocidade, pois tem mais facilidades. Hoje, as estradas são asfaltadas, há comidas prontas e água nas torneiras. Elas sofrem, sim, mas têm muito mais facilidades que há 40 anos. Vejo também que as crianças de hoje são diferentes, pois para os professores são mais trabalhosas, porque naquele tempo não precisava chamar a polícia nas escolas; os alunos tinham mais respeito para com os professores e coisas públicas, e a população não tinha tanto medo de ladrões e de violência. Quero enfatizar ainda que, com as drogas e a tecnologia, muitas coisas também mudaram, e as famílias estão desestruturadas, até porque há mais carência moral. Antes, as famílias eram mais sólidas e os casais não pensavam em separação, diferentemente de hoje, que já se casam pensando que, se não der certo, divorciam. Também existe a falta de religiosidade, pois não importa a religião, mas, sim, que Deus habite na família. Outra realidade é que 80% das mulheres de hoje são chefes de família, e, por isso, têm que ser mais fortes e cuidar ainda mais da casa e dos filhos, além de trabalhar fora”.
Édela também ressaltou que antes as crianças não tinham videogames e outros apetrechos tecnológicos, e havia mais entrosamento com os pais. “Hoje, por exemplo, em uma mesa cheia de pessoas, cada uma está com um celular e não interage, assim como em casa, cada indivíduo se isola em um ambiente. Muitos pais não conhecem os filhos porque não interagem com eles e, então, os pequenos e os jovens se envolvem com o celular, jogos e a internet e aprendem coisas de forma errada. Quero agradecer a Deus pelos filhos maravilhosos que tenho e que só me trazem alegria, e pelo Jerônimo que foi um ótimo marido e pai; e um grande administrador para a cidade e para os bens da família”.
Para finalizar, ela deixou uma mensagem a todas as mulheres. “Apesar de tudo o que passei, alegrias e tristezas, acho que valeu muito a pena, pois a vida é um dom de Deus e temos que ultrapassar todos os percalços com muita fé, pois é ela que nos dá forças para continuar. O importante é vivê-la intensamente, com carinho, amor e compreensão, procurando fazer com que todos com os quais convivemos, sintam-se felizes também; afinal, a felicidade é a certeza de que a nossa vida não está sendo inútil”.