CANÇÃO TRIFRONTEIRANA
Cidade é um conjunto de retas paralelas que formam um retângulo no círculo da Terra.
Umas crescem e crescem tanto que crescem verticalmente, talvez ingenuamente como Torre de Babel, querendo atingir aos céus, deixando anjos no chão.
se acotovelando, se machucando.
Outras se esparramam sobre a Terra, parecendo cemitérios, com lotes vazios, terrenos sobrando, gente faltando, anjos-adolescentes fugindo e velhos morrendo…
E nas quinas das esquinas poetas rabiscam papeis e noutras quinas cantores arranham o violão prá fugir do chão.
Três Fronteiras, minha cidade… onde pisei pequenino.
Amora, fruta do conde, manga, teus sabores de minha infância,
de tuas ruas sem asfato, de tuas paineiras a proteger os carrinheiros
arenosas estradas,
do trilho de ferro no meio da cidade, com o barulho do trem: a separá-la, a uni-lá, a separá-la, a uni-lá…até chegar em São Paulo, capital, num ritmo saudoso do barulho e da buzina do trem (eita trem bom) e hoje da estação abandonada…
Marcondes Filho e Vila São José: de dois bairros;
nasceu uma terceira força: Três Fronteiras.
A tríade do destino. Cidade-esperança (nos olhos do povo), Cidade-mater (porque é a primeira e a mãe de todas). Cidade-natureza (patrimônio de água e verdes).
Natureza de gente boa, bonita e caridativa (prá não dizer bondosa).
Cidade de Santos Reis, de Voz do Vale, de Parque “Areia Branca”.
E não é porque tens pedreira que teu coração é duro. Sou testemunha: és de coração flácido como o doce de maria-mole que eu comia no antigo Bar do seu Domingos Toneli. És um doce de cidade.
Sempre foi meu amor-fraterno, é minha vida plenamente e será meu descanso-eterno.