Meu presente
Hoje tirei um tempo para pensar em nós.
Não para recordar aquilo que já vivemos, e sim para pensar em tantas coisas que nunca mais teremos ou passaremos juntos. Sonhos atirados no abismo.
Sei que não terei o seu “bom dia” inspirador ou seu “boa noite, sonhe comigo” que, mesmo quando não me fez sonhar, me trouxe um sono tranquilo.
Numa sexta-feira à tarde você não pisará no penúltimo degrau do ônibus me dando aquele sorriso lindo de “eu cheguei”, e não terei que carregar pela alça aquela sua mala pesada, que não sobe até em cima o suporte que permite utilizar as rodinhas.
Não verei você cruzar os braços dentro do carro e diminuir a intensidade do ar condicionado, nem terei sua gargalhada quando eu – atrapalhado – derrubar todo o molho na mesa do restaurante.
Não queimaremos mais o pé na areia escaldante da beira do rio, e não ouvirei suas reclamações de que aquele passeio sujou a rasteirinha nova que acabara de comprar.
Não te abraçarei no meio de um show qualquer, e não verei você usar aquele vestido preto que te dei no Natal.
Não mexerei no seu cabelo quando estiver sentada no sofá da minha casa, nem te farei carinho enquanto assistimos a um filme no da sua.
Não te beijarei sobre a ponte de madeira que ameaçava cair, e também não te derrubarei – atrapalhadamente, mais uma vez – da bóia no meio da piscina.
Não dormiremos abraçados e não me sentirei invencível ao lado da mulher mais especial que já conheci: você.
Cancelamos o debate pelo nome dos nossos filhos, e está vago aquele apartamento que alugávamos em nossa mente.
Não lhe trato como passado, nem espero por outro futuro. Eu só queria ter você presente. Meu presente.