“PURITANOS” X “PECADORES”
Contardo Calligaris, articulista da Folha de São, em 2020, já analisava não espe-cificamente sobre o tema, mas mostrava a “luta” já travada naquele ano. “Os fanáticos lutam para impor a todos os caminhos pelos quais eles adoram se censurar e reprimir. Devem ter a estimulante impressão de estar trabalhando para realizar na marra a Cidade de Deus (ou o terceiro império dos homens puros)”.
Depois, continua o articulista: “Os cultos e céticos lutam para que cada um possa tocar a vida e gozar do jeito que lhe parece certo, sem ser julgado (apenas nos limites do Código Penal). É menos estimulante do que agitar os estandartes de Deus, família e tradição sobretudo para o aplauso de quem nunca parou para pensar o que eles podem significar”.
Hoje essa aparente “luta” continuou, já que os “puritanos” tentam impor seu “pensamento” e seu “comportamento” aos outros e, nós comuns dos mortais, vivendo a vida como ele é, respeitando a dignidade alheia de cada um.
Quando estudamos Karl Marx, aprendemos e procuramos entender a sociedade como “luta de classe”, mas a luta travada assim da turma “celestial” contra os “da terra”, nenhum filósofo pensaria. Talvez tenhamos chegado ao fundo do poço intelectualmente?
Mas, no Brasil de hoje, essa “luta”, para ser mais preciso, entre os “puritanos-bolsonaristas” e os “pecadores-lulistas” remonta ao que Calegari indagou no artigo acima citado: será que os laicos, agnósticos e cultos serão sempre vencidos por uma minoria de fanáticos incultos? Acrescento eu, formados hoje pela Faculdade do “WhatsApp” e especializados em “fake news”?
Não sei responder às perguntas, mas posso afirmar que temos que ter a preocupação em formar nossos jovens para batalhar contra o fascismo, antes que eles se tornem um deles. Aí sim vamos ver o inferno descer na Terra e não a Cidade de Deus (ou o terceiro império dos homens puros).
Assim, semana de Páscoa e “por isso, celebremos a festa não com o velho fermento, nem com o fermento da maldade e da malícia, e sim com os asmos da sinceridade e da verdade”. (I Coríntios 5:8), já que “Cristo, nossa páscoa, já foi sacrificado por nós” (I Coríntios 5.7), porque somos todos pecadores!