Homenagem às formigas

Publicado em 25/04/2014 23:04

Esse texto é uma homenagem a todas as “formigas” da Administração Pública, sejam elas da alçada municipal, estadual ou federal.
Acredito que quase todos conheçam a famosa fábula de Esopo, recontada por Jean de La Fontaine, chamada ‘A Cigarra e a Formiga’.
Em resumo, a narrativa conta a história da Cigarra que cantava durante todo o verão, enquanto a Formiga trabalhava arduamente para juntar os alimentos que necessitaria para sobreviver ao inverno. Quando ele chegou, gélido e cruel, a Cigarra bateu à porta da Formiga pedindo abrigo, que então lhe perguntou o que esta fizera durante todo o verão. “Eu cantei”, respondeu a Cigarra. “Então agora dance”, rebateu a Formiga.
Acreditava que essa maravilhosa fábula nunca mais voltaria a surgir em minha mente, porém, analisando alguns aspectos durante essa semana, percebi que há muito em comum entre essa história, e a realidade do funcionário público no Brasil.
São muitas as “formigas” do funcionalismo. Acordam todas as manhãs bem cedo, sejam elas insuportavelmente quentes, ou assustadoramente frias, e seguem para o seu incansável destino.
Quanto a destino, não entendam por local, e, sim, por sina mesmo, que é a de trabalhar arduamente e quase nunca ter o seu trabalho devidamente reconhecido.
Aí você se pergunta: mas por que o trabalho das formigas não é reconhecido?
E a resposta é lógica: por causa das “cigarras” do funcionalismo, é claro.
As “cigarras” da administração são aquelas que, muitas vezes, sabem bem pouco do verdadeiro andamento ou funcionamento dos seus setores, ou da máquina pública de modo geral, mas que, apesar disso, são exatamente as que tocam o andar da carruagem. Isso, usando nada mais que uma doce voz, que ilude alguns, mas não engana a maioria. A questão é que elas sabem “cantar nos ouvidos certos”.
Enquanto todo o crédito, reconhecimento e recompensa salarial são dados para as cantarolantes cigarras, as formigas, em sua maioria, desenvolvem todo o verdadeiro esforço físico ou mental necessário para que as coisas não parem dentro do setor público, e, em suas mentes inocentes de formiga, possam, quem sabe, também melhorar para elas mesmas.
Quando a formiga utiliza sua voz e dá uma ideia ou sugestão relevante, antes que essa chegue finalmente aos ouvidos certos, as cigarras cantam uma nota acima, e, com uma voz experiente em conduzir opiniões, convence aqueles ouvidos que suas próprias crenças, mesmo que infundadas, são melhores que a daquela formiguinha do funcionalismo.
O pior de tudo é formiga que acha que é cigarra, por ser amiga de uma. Pobre coitada.
Dentro de uma realidade administrativa maior, existe a super-cigarra, que, com algum ato ou procedimento de caráter decisivo, pode cantar livremente a direção e o modo que as formigas devem seguir, mesmo que este seja absurdo e ilusório.
Mas sabem como essa história pode terminar bem para a formiga?
Quando o verão de quatro anos de poder chegar ao fim para as super-cigarras, que são aquelas que, na maioria das vezes, nomeiam as cigarras para os cargos de comando. Será nesse momento que todas as formigas do funcionalismo, juntamente com as da sociedade, receberão esses seres cantarolantes em suas portas, com a voz já bem mais baixa e solícita, ansiando por ajuda durante o ameaçador período eleitoral. O inverno para eles.
A diferença é que não será necessário a formiga perguntar o que fez a cigarra durante todo o verão, pois, sem dúvidas, ela sabe muito bem. Todos sabem.
Cantaram, não foi? Pois bem, que agora dancem!

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