A ARTE ERGUE O ROSTO, E O MUNDO BAIXA OS OLHOS

Publicado em 20/12/2025 00:12

Solange das Flores Nascimento (Sol Flores) – Psicóloga psicanalista, atriz e diretora profissional e pós graduada em metodologia do ensino

Depois de tanto bater nas portas fechadas, a Arte tomou uma decisão simples e perigosa: não vai mais pedir licença.
Ela parou no centro do mundo, ergueu o rosto, abriu os olhos, e o mundo, covarde como sempre foi, fingiu que não viu. Mas viu. Ah, como viu.
Porque a Arte não precisa gritar para incomodar.
Ela existe, e isso já basta para expor a fragilidade dessa humanidade que se acha grande, mas vive tropeçando na própria pequenez.
A Arte caminha, e o mundo tenta desviar o olhar. Tenta, porque é impossível.
A Arte tem aquela presença que escancara tudo o que o ser humano tenta esconder: a mediocridade, a burrice repetida, o pensamento raso que navega em poças achando que são oceanos.
A Arte não ataca. Ela apenas se coloca diante do mundo como um espelho gigante, e o mundo desaba, porque nunca suportou ver o próprio reflexo.
E o mais engraçado, o mais irônico, o mais tragicômico disso tudo é que o ser humano tem a audácia de achar que não precisa da Arte. Ele acredita mesmo nessa fantasia infantil.
Acredita que vive muito bem com o concreto, com o boleto, com o turno de 12 horas, com a tela azul piscando e o estômago embrulhado.
Acredita que é autossuficiente, que a Arte é supérflua, que cultura é gasto, que emoção é fraqueza.
A Arte observa tudo isso com um misto de pena e deboche.
Porque ela sabe que está diante de uma espécie que se acha inteligente, mas não consegue entender nem o próprio vazio.
Uma espécie que exibe arrogância, mas vive emocionalmente desnutrida.
Uma espécie que se comporta como predadora, mas treme diante de qualquer verdade.
A Arte dá um passo adiante. O mundo recua. Porque quando a Arte confronta, ela desmonta: o político que fala bonito e pensa pouco, o empresário que acha que lucro é sinônimo de vida, a sociedade que idolatra o cimento e despreza o sentido, os adultos que pedem que crianças sonhem, mas cortam todas as asas.
A Arte não precisa justificar sua existência. Quem deveria se justificar é o ser humano.
A Arte questiona: “Como vocês ainda conseguem viver assim?”
O mundo não responde. Não sabe responder. E, no fundo, tem medo da pergunta.
Porque a Arte expõe a verdade que ninguém quer ver: não é a Arte que é inútil, é o mundo que ficou incapaz de sentir.
E quando uma sociedade perde sua capacidade de sentir, perde tudo. Perde memória, perde identidade, perde horizonte. Vira uma máquina velha rodando em piloto automático, cuspindo destruição enquanto acredita que está “evoluindo”.
A Arte confronta, e o mundo se encolhe.
Porque lá no fundo, lá naquele pedaço onde o ser humano tenta fingir que não dói, ele sabe: a Arte continua sendo a única coisa capaz de salvá-lo. Mas ele prefere fingir que não precisa.
Um espetáculo de ignorância tão grande que chega a ser cômico. Se não fosse trágico.

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