Aproveitando, é claro
Nas minhas andanças por toda a região, em virtude da divulgação do próximo Vestibular de Inverno da Funec, tenho encontrado diversas situações e dizeres que me fizeram perceber o quanto nós, seres humanos, somos obcecados pelo futuro.
Acontece que, por estar lidando diretamente com alunos da terceira série do ensino médio, que, sem dúvida, darão um grande passo no fim do ano, quando encerrarão uma fase escolar, mais leve e “amigável”, e adentrarão o ensino superior, onde a cobrança e responsabilidade são maiores, percebo que muitos anseiam por se livrar logo dessa fase atual, como se ela de nenhum proveito fosse.
“Não vejo a hora de fazer dezoito anos”; “enfim, faculdade”; “quero me livrar logo dessa escola”. Sim, eu também já pensei assim.
Mas, hoje, quando chego nesse ambiente escolar e a inspetora vem nos abrir o portão, enquanto fala firme com alguns alunos dispersos pelo pátio, para que retornem à sala de aula, já começo a sentir saudade disso tudo.
Saudade de chegar no Itael numa daquelas manhãs geladas, que quase sempre me faziam querer simular alguma gripe, dor de barriga ou qualquer outra coisa pra não sair da cama. Mas, no entanto, eu ia, e, ao chegar, já me amontoava em algum daqueles bancos de madeira, enquanto aguardava meus amigos, um a um, irem chegando. Gustavo a pé, Rafael de bicicleta, Deivid com cara de quem não tinha acordado ainda, e Weverton, o famoso “pé de mola”, que só de vir andando em nossa direção, daquele seu jeito engraçado, já nos fazia gargalhar.
Não estou dizendo que a faculdade não tenha as suas mil vantagens, mil coisas boas, e milhões de novas experiências.
Estou apenas destacando que nós devemos valorizar mais o nosso presente, vivê-lo com mais capricho e dedicação. Cada experiência é importantíssima e única em nossa vida, em todas as fases dela; portanto, é preciso, sim, pensar no futuro, mas, fazer isso de um modo que nos permita aproveitar o momento. O agora, depois de passado, por mais parecido que um dia possa ser, nunca mais será igual.
Então aproveite a fase que você está, seja ela de ensino fundamental, médio, ou de faculdade. E você que já passou por todas, aproveite a sua também. Aproveite a vida.
Planeje o futuro, mas não seja obstinado em alcançá-lo com desespero.
Pode ser que um dia, lá na frente, quando olhar pra trás, você sinta uma imensa saudade de tudo que passou, e você não viveu como devia.
Eu acharia bom poder ouvir de novo a voz da inspetora Valderez me tocando escada acima, após o término do intervalo, ou quando descia para tomar água e resolvia fazer um “tour” pela escola.
Falando nisso, gostaria de pedir perdão, também em nome do meu amigo Gustavo, por quando trancamos o “Seu Alencar” dentro da quadra do Itael, com o cadeado que ele deixou aberto quando entrou lá durante o intervalo.
Caro Alencar, enquanto ríamos da janela de nossa sala vendo o senhor chacoalhar a porta por cerca de trinta minutos, sem ninguém ouvi-lo, espero que entenda que estávamos fazendo algo de vital importância: aproveitando, é claro!