E SE NÃO DER TEMPO DE AMAR?

Publicado em 2/05/2014 23:05

Somos obrigados a admitir ue a nossa vida tem sido uma correria, apesar de a cada dia serem inventadas novas tecnologias para que possamos poupar tempo.
Ouço sempre alguém dizer “Não tive tempo de fazer isso ou aquilo… O tempo passa cada vez mais rápido”. E a vida vai passando tão rápido, a gente deixando tanta coisa pra traz.
De repente, tudo acaba. Pelo menos pra quem morre. Porque para quem ainda não foi chamado para o andar de cima ou de baixo, alguns dias depois da surpresa ou da dor da perda tudo segue quase igual. A não ser para as mães que perdem seus filhos. Para essas a vida nunca mais é a mesma.
Ouvi de uma delas que depois de perder a filha sentia-se constrangida até de sorrir. Sentia dor toda vez que presenciava um momento alegre à sua volta. E nós? Como nos sentiríamos se soubéssemos que o tempo acabou e que daqui a alguns minutos a vida terá acabado? Será que vai dar tempo de colocar tudo em dia?
Os jovens nunca pensam na morte. Talvez por isso são mais ousados, mais corajosos, enfrentam o perigo de peito aberto como se tivessem todo o tempo do mundo. Mas para quem já amadureceu e conhece a efemeridade da vida, como nós, refletir sobre o significado do tempo que pode restar às vezes nos apavora.
Há um tempo eu achava que queria saber o dia certo da minha morte. Hoje não sei se quero mais. Talvez não o dia certo, mas que fosse o tempo suficiente para resolver certas pendências. Tempo bastante para ter tempo de perdoar. Não pedir perdão. Tempo bastante para amar mais quem eu não tive tempo ou esqueci de amar.
Tem dias que a gente fica assim, meio sorumbático, imaginando quem sentiria nossa falta ou o que seria mais doloroso deixar para trás.
Não acredito que quando morremos tudo acaba e que vamos ficar dormindo esperando o dia do julgamento final. Acredito, sim, que passamos a vida inteira fazendo escolhas que transformam precocemente nossa vida num inferno ou num paraíso.
Esta semana, graças a um filme que assisti, estou assim: pensando no que fiz da minha vida. Será que fiz diferença na vida de alguém? Será que vou ficar feito alma penada tentando consertar as coisas erradas que fiz, agora que não dá mais tempo de corrigir? Será que vou insistir em proteger quem eu amo, mesmo não tendo esse poder, nem mesmo vivendo?
Muitos de vocês vão me considerar meio fúnebre. Não me importo. Eu tenho um lado assim, bem dramático, como diz minha filha. Mas, sinceramente, penso muito na morte. Talvez por já tê-la visto de frente tantas vezes. E Ela nunca quis nada comigo. Deixou-me aqui, fazendo um monte de besteiras e pensando se quando ela vier de verdade vai me cobrar o tempo de prorrogação que me deu e eu não aproveitei pra resolver aquela briga com alguém da família ou dizer que amava a quem eu nunca disse.
Muita gente só pensa na morte quando vai a velórios ou quando tem a ameaça de uma doença séria batendo na porta do corpo que passou a vida maltratando. O espectro da morte ainda não me assusta. Acho que só a morte alheia me dá medo.
Na verdade, acredito que, mesmo quando alguém que não conhecemos profundamente morre, o fato deveria servir para que refletíssemos sobre o tempo que ainda temos para fazer o que deveríamos ter feito, mas não deu tempo.

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