DE FRENTE PRO CRIME
A letra de João Bosco faz-me lembrar de nós. De nós, brasileiros, assim como de todos os povos em outros países onde reina o caos.
“Tá lá o corpo estendido no chão
Em vez de rosto uma foto
“De um gol…”
Tem sido assim desde a Antiguidade, só mudou o cenário. Dois mil e quinhentos anos antes de Cristo os egípcios jogavam “Justa de pescadores”, um jogo que terminava com um grande número de jogadores mortos…
Naquele tempo, os governantes promoviam duelos nas arenas, jogavam os católicos aos leões. Mais tarde o povo se divertia e comia brioche com o deboche dos atores e das peças que ironizavam tudo e todos em teatros onde até a realeza frequentava, misturando-se aos miseráveis bêbados e ladrões. Dama IBOP e era permitido porque divertia e os fazia esquecer por algumas horas a fome e a peste.
Depois vieram as touradas, as rinhas com cães, galos e canários, assim como inúmeros esportes violentos que deixavam os participantes feridos ou mortos e o povão feliz. Enquanto isso, os nobres se divertiam nos salões; depois viraram classe média e inventaram outras diversões violentas para poder vomitar sua revolta.
Mas a violência, pelo que parece, faz bem ao bicho homem e ele a provoca no trânsito, nos mercados, nas festas por conta do excesso de álcool, nos estádios de futebol e nas ruas através de protestos e bandalheiras.
Não estudei ainda, como os antropologistas e filósofos analisam isso. Aqui, coloco apenas uma tímida ideia que, revertida em palavras, revela o que assisto no meu século. Mas de uma coisa eu tenho certeza e vocês podem pesquisar: Os governantes sempre usam a foto de um gol para distrair a atenção do que se passa em uma nação, seja ela qual for. Dos Estados Unidos à África.
A foto do corpo estendido no chão só é colocada se for para provocar balbúrdia, revolta e servir politicamente aos que estão no poder. “O bar mais perto depressa lotou/ malandro junto com trabalhador/Um homem subiu na mesa do bar/ e fez discurso pra vereador…” Será que esta imagem nos lembra alguma coisa?
No frigir dos ovos o trabalhador foi beber para afogar as mágoas da sua vida desgraçada, se misturou com o malandro que não fazia nada, que pediu ao candidato a vereador para pagar uma pinga em troca de um voto. E, com isso, todos se ajeitam e esquecem que a inflação subiu, que vão levar 1/3 do dia para chegar ao trabalho em função do caótico transporte público e que os políticos que deveriam representá-los e lutar por eles cada dia mentem mais em seus discursos, que muitas vezes ainda são em mesas de bares, pois é lá que está o povão e o voto.
Hoje a classe A (antiga nobreza) não vai para a arena. Os atuais nobres continuam mamando nas tetas da realeza como dantes e só reclamam do poder injusto e atroz para com o povo quando não sobra nenhuma propina para seus bolsos ou de suas famílias. Discursam todos, mentem todos. Pecam todos. Não importa a cor da bandeira que seguram.
Passam todos ao largo do corpo estendido no chão, torcem pelo time preferido, enquanto bebem suas cervejas, vinhos ou champanhes em seus clubes, à beira da piscina ou no Caribe. Depende apenas de qual monarca está no poder e vai dar-lhes o título de conde.