Oito ou oitenta
Recebo um recado muito interessante de um ouvinte lá do Pará. Olhe só:
“Boa tarde Luciano, sou um ouvinte assíduo do seu podcast, o Café Brasil, e há algum tempo escutei um comentário seu a respeito da culpa do patrocinador do entretenimento pocotó, tal como o Big Brother. Todavia, sou um patrocinador desses eventos, sou um empresário dono de supermercado e não escolho outras mídias por um motivo simples, elas não trazem retorno similar. Então eu lhe pergunto: como você vê a situação do empresário que possui recursos limitados e precisa escolher certo? No meu caso em particular, possuo verba limitada e ação limitada, pois sou uma empresa tradicional, daquelas que o cliente vem e faz a feira do mês. Já pensei em atitudes como sopão ou patrocínio de eventos locais, entretanto, além de não dar o retorno igual à mídia pocotó, elas não são sustentáveis, não é um marketing social verdadeiro, pois a meu ver, quando eu me retirar, o projeto morre. Essa é a situação que me deparo, como ser lucrativo e ao mesmo tempo ser responsável.”
Respondi assim: “Compreendo perfeitamente seu dilema. Quando estive à frente do departamento de MKT de uma multinacional tive o mesmo dilema. Sofria quando tinha que autorizar propostas de veiculação nas mídias pocotós que os especialistas das agências de propaganda traziam. Como resolvi isso? Defini um dia que alocaria x% da verba em projetos de desenvolvimento cultural, que eu sabia que dariam pouco ou até nenhum retorno direto. Se a verba para os pocotós subia, o valor absoluto representado por aqueles x% também subia. E assim consegui patrocinar dezenas de projetos legais, lancei autores, distribuí conteúdos, lancei livros, CDs, sites, etc.
Quando visito meus potenciais patrocinadores costumo dizer: “Em vez de investir R$ 4 milhões na Rede Globo, invistam R$ 3,8 milhões. E botem R$ 200 mil no Café Brasil, pô!” Esses 200 mil não farão nenhuma diferença na campanha deles, mas podem ser o futuro do Café Brasil.
Veja este exemplo bobo: se sua verba é R$ 10.000, dedique R$ 500 para um projeto que valha a pena. Encontre uma ONG ou algo parecido e aproxime-se deles. 12 meses de R$ 500 serão R$ 6.000… E projetos que custam 10 mil podem ser feitos com 9,5 mil… E assim vai. Não resolve o problema, mas esses 5% que são pouco para você, talvez sejam tudo que aquela ONG precisa.
Neste mundo de extremos, é comum achar que é tudo ou nada, que é oito ou oitenta, mas não precisa ser assim. Quem pensa dessa forma só lidará com confrontos, gastando mais energia que o necessário. Comece com oito. Ele pode ser oitenta pra muita gente.”
Ele agradeceu e seguimos em frente.
Acho que vai acontecer alguma coisa lá em Paragominas…