Leishmaniose está com seus dias contados no Brasil
Por Lelo Sampaio e Silva
O Mapa – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – e o Ministério da Saúde acabam de liberar o registro final da Miltefosina, substância para tratamento da leishmaniose visceral canina. O produto é comercializado na Europa com o nome comercial de Milteforan e será vendido no Brasil a partir de janeiro.
Especialistas afirmam que o registro de uma medicação de uso exclusivamente veterinário, com eficácia clínica, laboratorial e, sobretudo, que bloqueia a transmissão representa um marco importante.
Segundo o médico veterinário Paulo Sérgio Ondei esse medicamento é usado na Europa há mais de 10 anos.
“O medicamento foi produzido para o tratamento contra o câncer em seres humanos, uma vez que impede a reprodução das células cancerígenas. Entretanto, especialistas descobriram que ele também age contra a Leishmaniose. Lá, a droga também é usada para este fim, uma vez que age na membrana do parasita, impedindo que o protozoário se reproduza”, disse ele.
Ainda segundo o veterinário, a droga fez com que muitos animais não fossem mais sacrificados, embora ela não represente uma cura de 100% dos animais. “Cada caso tem que ser analisado por um veterinário, que irá determinar qual o protocolo indicado para o animal, até porque, por ser um medicamento muito forte, tem diversos efeitos colaterais. Assim, o médico deve estar atento quando do medicamento o animal pode tomar, e até quanto o tratamento deve durar, bem como a necessidade ou não de um tratamento antes da aplicação da medicação, até porque muitos pacientes têm problemas renais, por exemplo, e não podem ser submetidos a ela, pois a droga atinge diretamente o rim. Assim, deve-se haver todo um tratamento dos rins do animal para que a Miltefosina possa, então, ser administrada”, explicou Paulo.
Para o tratamento, a droga deve ser usada em conjunto com outros medicamentos para que haja a cura da Leishmaniose.
“É importante salientar que embora a Miltefosina tenha sido autorizada para a sua comercialização, o medicamento ainda não se encontra disponível no Brasil, haja vista estar sendo importado pela empresa Virbac. Após, passará pelo processo de legalização de bula, de embalagem, de registro da droga no Ministério da Saúde, para que possa então ser efetivamente comercializada aqui, e isso deverá ocorrer somente a partir do próximo ano”, explicou.
Paulo Ondei disse que o tratamento é simples, ou seja, o animal deverá tomar uma dose líquida diária por 28 dias. Após esse ciclo, se necessário, o médico, após exame laboratorial, dará continuidade ou não ao tratamento, caso haja a necessidade.
Sobre liberação da comercialização da droga no Brasil, o médico enfatizou tratar-se de um grande avanço, uma vez que até hoje grande parte da classe veterinária sempre entendeu a Leishmaniose diferentemente da Saúde Pública que, por sua vez, a via como uma terrível doença, onde o grande vilão era o cão. “Na verdade sabemos que esse ‘grande vilão’ é o mosquito causador da doença. Assim, sempre entendemos que para combater a Leishmaniose o correto seria combater o mosquito, e não sacrificar o cão, como muito se fez por aqui. Só para termos uma ideia, existem 88 países endêmicos com leishmaniose, e o Brasil é o único país que adota a eutanásia de animais como medida de saúde pública”, enfatizou.
Para ele, a Miltefosina representa um enorme passo no tratamento dessa doença.
“Antes, nós, médicos veterinários, nos empenhamos ao máximo para salvar as vidas desses animais. Entretanto, nos víamos acuados, pois antes, se tratássemos do animal para prolongar sua vida, evitando a eutanásia, éramos muitas vezes acusados de antiéticos, pois estávamos colocando em risco a vida dos seres humanos. Com a liberação da Miltefosina, agora nos sentimos mais a vontade para cumprir o nosso papel, que é o de salvar vidas”, finalizou o médico veterinário Paulo Ondei.