Obsessão por ‘selfie’ pode ser tratada como uma doença

Publicado em 9/10/2015 23:10

Atualmente, a ‘selfie pós-sexo’ tem se tornado viral na internet

Por Lucas Machado

Considerada a palavra do ano, em 2013, pelo dicionário de inglês Oxford, a ‘selfie’ é um tipo de fotografia de autorretrato, normalmente tomada com uma câmera fotográfica de mão ou celular com câmera.
Um dos motivos para essa escolha foi o fato da busca por esta palavra ter crescido 17.000 % naquele ano, o que confirma o seu estatuto de uma das palavras mais procuradas em um ano.
As selfies são frequentemente associadas às redes sociais, como o Facebook, Instagram, Snapchat, Twitter.
Além do autorretrato, a selfie pode ser em grupo, e, recentemente, se tornou viral nas redes sociais a ‘selfie pós-sexo’, foto que registra o casal logo após o ato sexual.
De acordo com a psicóloga Ellen da Costa Assis, não há nada de errado em tirar selfie e postar nas redes sociais, e que, atualmente essa é uma atitude normal, resultado do estilo de vida neocontemporâneo, que incorpora as modernas tecnologias; porém, quando essa atitude se torna uma obsessão, algo que é realizado de forma exagerada, ela relata que pode indicar algum transtorno psicológico.
“A depressão, fobia social, transtorno de personalidade narcisista e transtorno dismórfico corporal são danos causados pela obsessão em tirar a selfie. O transtorno de personalidade narcisista é caracterizado como a tendência da pessoa em preocupar-se obsessivamente com a maneira com que os outros o enxergam, e também com aspectos que possam interferir de algum modo na sua imagem; já o transtorno disfórmico corporal é caracterizado pela preocupação excessiva com a aparência física, que ocasiona prejuízos concretos na vida do sujeito”, explicou ela.
Ellen detalha que a obsessão, na maioria das vezes, ocorre pela espera de ‘curtidas’ nas redes sociais, e diz respeito à autoestima, identidade e relações presenciais e virtuais das pessoas. “Uma pessoa mais madura e feliz consigo mesma não exagera nas selfies e também, quando as tiram, normalmente são fotos mais espontâneas. Já alguém mais inseguro percebe-se que posta selfies mais arquitetadas e elaboradas, pois, com isso, espera um maior número de curtidas”, disse a psicóloga.
Ela relatou ainda que as relações virtuais propiciam a criação de novas identidades e as selfies são a forma que pode demonstrar isso, sendo que, normalmente, uma nova identidade surge como uma fuga da realidade, podendo, para essas pessoas, a vida virtual ser muito mais interessante, e, ainda, quanto mais curtidas, maior a sensação de serem amadas e admiradas.
“Há quem poste 30 selfies por dia e, quando não o faz, sente quase uma síndrome de abstinência. O tratamento é indicado para os transtornos que a obsessão por selfies suscita ou desencadeiam problemas, sendo aconselhado tratamento psiquiátrico e psicológico, que identificarão os sinais e sintomas específicos dos transtornos”, explicou.
Segundo Ellen, há a necessidade, e também a preocupação do que os amigos, os outros, irão pensar e se irão curtir seu selfie ou não; por isso, a pessoa precisa mais e mais postar selfies para receber elogios, curtidas e estar bem, e, assim, há a compulsão.
“Tal compulsão origina-se normalmente para evitar o sentimento de vazio, e quando a pessoa começa a entrar em contato com a sensação de vazio, tira uma selfie, e logo virão elogios que darão a falsa percepção de felicidade, de ser amado e admirado; porém, nesse contexto, há também a dificuldade de a pessoa estar sozinha com seus sentimentos e pensamentos, sejam eles bons ou ruins. Somos muito mais que a imagem refletida no espelho. Digo isso me referindo à mitologia grega, o mito de Narciso, que resumidamente era conhecido pela sua beleza e pela impossibilidade de contemplar-se, algo que lhe renderia vida longa; porém, ao ver seu reflexo nas águas do rio do Eco, se apaixona por si mesmo, e, na busca desse amor impossível, deita-se no banco do rio vendo sua beleza refletida nas águas e ali sucumbe-se, morre, admirando a própria imagem. Hoje, podemos ver tal mito refletido nas redes sociais, nas selfies, não somente com a necessidade de se expor, mas principalmente com a necessidade de ser reconhecido, admirado e amado”, finalizou Ellen da Costa Assis.

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