A Revolução dos Bichos

Publicado em 2/08/2024 00:08

A Revolução dos Bichos foi publicado em agosto de 1945. Poderia ter sido escrito na semana passada, ser quadro cômico no Fantástico, editorial de jornal e fonte infindável de memes. Em 79 anos, desde seu lançamento a fábula política e os personagens de George Orwell nunca deixaram de ser atuais, o que não diz muita coisa de bom sobre a nossa sociedade. A fábula sobre os bichos da fazenda que se revoltam contra a exploração do homem e tomam o poder, mas em pouco tempo, veem seus líderes chafurdarem em privilégios que antes condenavam e reprimirem violentamente qualquer forma de oposição. Este foi o caminho escolhido por Orwell para apontar os abusos da ditadura soviética.
Alguns dos personagens do livro, como o suíno Napoleão, dá o golpe no companheiro de luta Bola-de-Neve. Com o passar do tempo, vai se tornando cada vez mais despótico e passa a adotar atitudes humanas, como dormir em camas, fumar cachimbo e tomar porres homéricos.
O mais comovente dos personagens, Sansão, é um cavalo devotado à causa e trabalhador incansável. Segue duas máximas na vida: “Trabalharei cada vez mais” e “Napoleão tem sempre razão”. Seu único sonho é poder se aposentar aos 12 anos, como prometido, com direito a dois quilos e meio de milho por dia, e oito quilos de feno no inverno, mais uma cenoura ou uma maçã nos feriados. Isso não acontece. A um mês da aposentadoria, depois de cair de exaustão, Sansão é encaminhado ao matadouro de cavalos.
O burro Benjamim vê a revolução com descrença e se mantém alheio às disputas políticas. Como sabe ler melhor do que todos os outros animais, é o primeiro a perceber que Sansão estava sendo levado para o matadouro. Mas não consegue impedir o sacrifício do amigo e se torna mais taciturno do que nunca depois do episódio. Os nove cachorros separados da mãe ainda filhotes são criados sob a tutela de Napoleão e viram a feroz guarda particular do líder. É com a ajuda deles que Napoleão dá o golpe em Bola-de-Neve e mantém a bicharada sob controle.
Moisés, o corvo domesticado, aparece de tempos em tempos para dizer aos animais que uma vida melhor os espera no céu, onde há uma montanha de açúcar-cande, campos de trevo e bolos de linhaça à vontade. Apesar de não trabalhar, sua presença é tolerada pelos porcos, que ainda lhe dão um copo de cerveja diariamente.
Após quase 80 anos de sua publicação, a fábula de George Orwell é fascinante e assustadora ao constatar como essas descrições poderiam representar tantas figuras atuais. E como governos populistas e regimes totalitários se parecem, seja qual for o espectro político. Em quem servem as carapuças – ou os arreios –, vai da interpretação de cada um.

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