A tríplice coroa
Hoje a “coruna” homenageia João Ubaldo Ribeiro, Rubem Alves e Ariano Suassuna, os reis da literatura brasileira que, recentemente, nos deixaram órfãos de pai e mãe, em matéria de educação e cultura.
João Ubaldo Osório Pimentel Ribeiro, baiano de Itaparica foi escritor, jornalista, roteirista e professor brasileiro, formado em direito e membro da Academia Brasileira de Letras. Autor de livros como Viva o povo brasileiro e Sargento Getúlio, histórias tão vivas, bem humoradas e coloridas que, ao lê-las, parecia que éramos capazes de testemunhar os acontecimentos e situações relatados de corpo presente. Fernanda Torres, atriz, definiu muito bem o seu perfil: “Um acadêmico dotadíssimo, exímio contador de causos, era engraçadíssimo, frequentador dos botecos de esquina, erudito de shorts e chinelo de dedo.”
Rubem Alves, mineiro de Boa Esperança foi psicanalista, educador, teólogo, escritor brasileiro e professor emérito da Unicamp, Campinas. Sensível à poesia da vida e à beleza abrigada em cada parte do mundo, o mestre renova a força da alma humana e inspira lirismo e sabedoria por uma vasta obra que já tocou e encantou gerações inteiras. Desde a década de 80, pelo menos, o educador pedia por meio de livros, colunas e entrevistas que colégios deixassem de massacrar os estudantes com conteúdos cobrados no vestibular e que passassem a mostrar o que os jovens vêem e verão na vida. Como exemplo, sugeria uma aula que começasse com uma casca de caramujo vazia, que “ninguém presta atenção”, mas “é um assombro de engenharia”. A função do educador é fazer o jovem notar a complexidade da casca e entendê-la. Gilberto Dimenstein, jornalista conclui: “O que ele deixa de melhor é essa visão da educação como fonte necessariamente de prazer e não de dor.” Ele era tão atual que escreveu “O futebol levado a riso” e “Se eu pudesse viver minha vida novamente…”.
Ariano Vilar Suassuna, paraibano de João Pessoa foi escritor, dramaturgo, professor universitário e membro da Academia Brasileira de Letras. Do primeiro contato com o circo e com peças colegiais, no sertão paraibano, até a diversificada biblioteca que encontrou em uma escola de Recife quando ainda era estudante do ensino fundamental, deixou um legado inegável na literatura, no teatro, nas artes plásticas e na música. “No Sertão do Nordeste a morte tem nome, chama-se Caetana. Se ela está pensando em me levar, não pense que vai ser fácil, não. Ela vai suar! Se vier com essas besteirinhas de infarto e aneurisma no cérebro, isso eu tiro de letra”, disse ele, em dezembro de 2013, durante a retomada de suas aulas-espetáculo. Luis Fernando Veríssimo, escritor foi preciso em dizer que “Ariano era um tesouro nacional, era mais do que escritor, compositor, era um ícone da cultura brasileira”. O autor de Auto da compadecida e A pedra do reino foi ativo até o fim.