Avó da Praça de Maio
A argentina, Estela de Carlotto, é a nossa heroína de hoje.
Líder e uma das fundadoras da organização de defesa dos direitos humanos, Avós da Praça de Maio, ela descobriu em Buenos Aires o neto Guido, sequestrado pela ditadura logo após o nascimento, há 36 anos.
Guido foi batizado pelos pais adotivos com o nome de Ignácio Hurbán. “Ele é um bom garoto e trabalha como músico (pianista) e eu digo ‘obrigada à vida’, pois não queria morrer sem abraçá-lo, e muito”, disse a avó feliz ao receber a notícia da sua descoberta.
Estela, de 83 anos, procurava o neto desde que tinha 47 anos.
A descoberta só foi possível porque o jovem pianista de 36 anos suspeitou de suas origens e fez voluntariamente o exame de DNA do Banco de Dados Genéticos, laboratório oficial onde são realizados os testes para comparar os resultados com as amostras ali depositadas pelas famílias dos bebês desaparecidos. Foram sequestradas, aproximadamente, 500 crianças, filhos de prisioneiras políticas, no período de 1976 a 1983.
A filha de Estela, Laura de Carlotto, ativista, foi sequestrada pelos militares em novembro de 1977, quando estava grávida de dois meses e meio. Seu namorado, músico e pai da criança, foi torturado e assassinado um mês mais tarde, na sua frente. Laura, algemada, deu à luz no dia 26 de junho de 1978 na maternidade clandestina do Hospital Militar, em Buenos Aires. O bebê foi tirado de seus braços pelos militares cinco horas após o nascimento.
Laura, que tinha 23 anos na época, foi fuzilada dois meses depois do parto, em 25 de agosto, em uma área rural, perto de uma rodovia. Seu rosto havia sido desfigurado por golpes com a culatra de um fuzil. Seu ventre estava perfurado por um disparo.
Enquanto isso, Guido, com poucas semanas de vida, foi entregue a uma família de agricultores na região de Olavarria, no sul da província de Buenos Aires, onde cresceu. A família que o adotou não sabia sobre sua origem e da ligação com os militares.
A nossa heroína, líder das Avós da Praça de Maio, candidata várias vezes ao Prêmio Nobel da Paz, ainda hoje espera, com seu árduo trabalho, evitar tragédias semelhantes no futuro.
O jogador da seleção argentina de futebol, Javier Mascherano, é também participante de campanha pela recuperação dos desaparecidos e celebrou a descoberta do rapaz, destacando que é preciso “continuar trabalhando pelos que faltam”. Masquerano não foi eleito o “Melhor jogador da Copa”, mas, pelo seu gesto, é candidato sério ao “Troféu de Solidariedade Humana”.