Bellini, o grande capitão
Dentre os heróis que tive durante a minha infância, naturalmente, depois do meu saudoso pai, os personagens de gibis e de filmes eram os grandes favoritos.
Não poderia deixar de lembrar, dentre eles, as figuras de Batman, Cavaleiro Vermelho, Nioka, Roy Rogers, Zorro, Fantasma, Mandrake, Superman, Durango Kid e o detetive Anjo.
Mas foi exatamente na Copa do Mundo de 1958, em Estocolmo, que eu, um garoto de apenas nove anos, praticante de peladas com bola de meia nas ruas da minha querida Rubiácea, comecei a ter amor pelo futebol.
Os jogos eram transmitidos pelo rádio e na partida final contra a Suécia fomos todos torcer na praça ao som de um serviço de alto falante.
Quando a seleção canarinho conquistou a Copa do Mundo, os nossos heróis passaram a ser os jogadores, cuja escalação já estava na cabeça: Gilmar, Djalma Santos, Bellini, Orlando e Nilton Santos, Zito e Didi, Garrincha, Pelé, Vavá e Zagallo.
Parece que quando me lembro desse fato ouço o fundo musical de uma marcha que dizia: “A taça do mundo é nossa/ Com brasileiro não há quem possa/Êh eta esquadrão de ouro/É bom no samba, é bom no couro…”
Bellini, “o moço de Itapira”, como diria Fiori Gigliotti, foi o grande capitão do esquadrão de ouro que eternizou o gesto de erguer a taça Jules Rimet após a conquista do primeiro título mundial do Brasil.
O nosso herói era um líder nato que tinha elegância, caráter e personalidade marcante. Mesmo sendo o jogador menos habilidoso daquela seleção, possuía uma raça excepcional que compensava a sua atuação em campo pelo seu jogo duro e sua determinação de vencer.
Quando saiu do Vasco da Gama, ele foi jogar no São Paulo no lugar de Mauro, outro monstro da camisa três, que trocava o tricolor pelo Santos.
Na Copa do Mundo do Chile, em 1962, Mauro se rebelou contra sua condição de eterno reserva de Bellini e ameaçou deixar a seleção. Fosse outro atleta, isso seria visto como uma insubordinação.
Mas Mauro era tão respeitado que a comissão técnica ponderou suas palavras.
E foi Bellini quem bateu o martelo: “É justo. Agora é a vez do Mauro”.
Que outro jogador faria isso?
Com Mauro de capitão, o Brasil conquistou o bicampeonato mundial e eles se tornaram grandes amigos até o falecimento de Mauro, em 2002.
No céu, a seleção celestial já está sendo montada – a espinha dorsal do time tem Gilmar, Djalma Santos, Orlando, Mauro, Bellini, Nilton Santos, Didi e Garrincha.