Camisa listrada

Publicado em 5/04/2024 00:04

O nosso herói de hoje é fruto da imaginação criativa do compositor Assis Valente, cuja música, nos anos 30 foi sucesso no carnaval através de Carmem Miranda e hoje, seu personagem caricato, é deveras, atualíssimo.
Era uma vez um leão. O Rei dos Animais trabalhava em um circo mambembe da cidade. O povo do local e dos arredores, ao saber que havia um bicho majestoso e feroz se apresentando no picadeiro, ficou curioso para vê-lo.
Era noite de carnaval quando a fera arrebentou as grades de ferro e fugiu para a rua. O pânico foi generalizado. Todo mundo correu, exceto um rapaz franzino vestindo uma camisa listrada, canivete na cinta e um pandeiro na mão, que estava parado numa esquina esperando o Bloco do Bola Preta passar.
O leão avançou em direção ao rapaz, mas como ele era muito valente, sacou seu canivete e acertou um golpe certeiro na jugular do felino, que morreu estirado na calçada, de anemia hemorrágica aguda.
Diante desse fato espetacular, a imprensa falada, escrita, televisionada, autoridades, políticos e a população foram conhecer o herói da cidade.
O Ministro do Supremo quis saber se o rapaz era chefe do crime organizado por causa de sua coragem. O Ministro da Aeronáutica perguntou se era piloto de esquadrilha suicida. O Ministro da Marinha achou que era um fuzileiro naval. O Ministro do Exército pensou que ele fosse um atirador de elite. Mas ele não era nada disso. Foi quando um jornalista perguntou: – Quem é que você é?
– Sou operário, simplesmente um torneiro mecânico, respondeu o autor do golpe fatal.
E, no dia seguinte, os jornais da imprensa tradicional publicaram em manchete: “Leão acuado e indefeso morto por feroz agente comunista”.
Pergunta que não deve calar: – Quando a narrativa induz que o herói da história é o leão, a imprensa é imparcial, amarela ou marrom?
Com os leitores, a conclusão!

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