Ferreira Gullar
O nosso herói de hoje é Ferreira Gullar, pseudônimo de José Ribamar Ferreira, foi um escritor, poeta, crítico de arte, biógrafo, cronista, tradutor, memorialista e ensaísta brasileiro, um dos fundadores do neoconcretismo e postulante da cadeira 37 da Academia Brasileira de Letras.
Natural de São Luís, Maranhão se despediu do mundo literário aos 86 anos bem vividos. Denominado “Poeta do Espanto” foi também uma personalidade polêmica, além de ter sensibilidade musical aguçada. Foi autor da versão musical de “Borbulhas de Amor”, grande sucesso do cantor Raimundo Fagner.
O poema mais importante na vida deste poeta foi sem dúvida “Poema Sujo” o qual não vamos aqui reproduzi-lo, por ser sujo mesmo. Mas o nosso assíduo leitor da “coruna” vai ter o privilégio de ler e relembrar uma obra prima da poesia brasileira:
Não há vagas
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
– porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede
nem cheira.
Ferreira Gullar, in ‘Antologia Poética’