Goleada de pelada
Apaixonado pelo futebol arte, religiosamente nas tardes de sábado, vou jogar “racha” no Tênis Clube, tradicional clube da cidade. Faço isso há pelo menos 42 anos. É uma verdadeira confraternização de amigos, profissionais de diversas áreas, tendo como desculpa jogar aquela pelada de fim de semana, além de ser farmacologicamente um antídoto para o estresse do cotidiano. O nível técnico não é lá estas coisas, mas têm alguns ex-profissionais da pelota que sempre estão dando aulas para a gente.
Certo dia, o “desorganizador do racha”, como era chamado o saudoso Carlinhos da Volks, por gozação, montou um time de “craques” de um lado e, do outro, de “pernas-de-pau”.
Bola no centro do tapete verde do gramado, e começa o espetáculo!
Peru toca para Pombo, este domina de primeira para Boi, que, de trivela, lança Bezerrinha, que dá um tapa para Curvina e é gooooool! O goleiro Ruinzinho, do time dos “pés de chinelo”, nem viu a bola. Dizem que ela foi pousar onde a coruja faz o ninho.
Antes de o juiz pedir para colocar o balão de couro no centro da cancha, a equipe dos “cabeças de bagre” se reuniram fazendo uma roda e rezaram um Pai Nosso e uma Ave Maria no intuito de não tomar muitos gols.
A prece feita pelo Padre foi tão eficiente que logo no primeiro lance Jacaré dá para Gato, este serve Água Doce, que gira para Genivaldo, que dá um balão e a esfera se aloja no fundo das redes do goleiro Vico.
A contenda estava empatada e a torcida incentivava os “quatis” que formavam um meio de campo de respeito da equipe dos “inimigos da habilidade”: Marcelo, Bombeiro e William. Por um passe de mágica, o atacante Joel, dos “pé duros”, recebe a criança na entrada da área e mete uma injeção na banda esquerda do arqueiro, fazendo dois a um.
O time do “cobras” ficou tonto com o resultado e consequentemente levou mais cinco gols, perdendo o confronto por 7X1.
Agora, nunca poderia imaginar que numa Copa do Mundo um time pudesse golear outro, principalmente em se tratando de uma Seleção Brasileira de Futebol. Será que foi a emoção do hino à capela, a pressão da galera com casa cheia, no Mineirão, o esquema tático jurássico de Felipão, a falta absoluta de conjunto ou o salto alto que calçaram os milionários atletas, em vez das chuteiras.
Nelson Rodrigues, inspirado por este acontecimento, certamente escreveria na crônica esportiva que somos a “Pátria de salto alto”.
Oxalá, seremos como nossos algozes alemães, o país da saúde, da educação, da segurança e da equidade social.
A lona do circo caiu e o espetáculo terminou.
Acorda, povo brasileiro!