IV Centenário de São Paulo
Há 62 anos, com apenas quatro anos de idade, tive o privilégio de comemorar, com os meus pais, Massuo e Emiko Watanabe, os 400 anos da “Terra da Garoa”.
Foi exatamente neste dia que a minha tia Helena me deu de presente o uniforme completo do São Paulo F.C.
Quando me vesti de tricolor, o gorro, naquela época tinha este adereço, a camisa, o calção, as meias e as chuteiras senti me um autêntico sãopaulino da gema. Naquela tarde, no Estádio Municipal do Pacaembu jogavam São Paulo e Corinthians pelo Campeonato Paulista e o timão se tornou “Campeão do IV Centenário”.
Tenho lembrança de ter visitado o Instituto Butantã, não pelas cobras que haviam por lá, mas por ter despencado de uma ribanceira todinha gramada que existia por ali.
Em meu inconsciente tenho nostálgicas recordações do passeio no Parque Ibirapuera, um gigantesco jardim com árvores e lagos, um verdadeiro Éden.
A minha passagem pelo Viaduto do Chá foi inusitado pelo fato de achar pitoresca a denominação de “chá” na terra do paulistano fissurado em café.
A música “Quarto Centenário”, de Mário Zan, interpretada por Carlos Gonzaga ainda está na lembrança infantil, assim como “São Paulo Quatrocentão”, de Garoto e Chiquinho do Acordeon, com letra de Avaré, na voz de Hebe Camargo. “Por que amo São Paulo”, letra de David Nasser, interpretada por Nelson Gonçalves, outra música famosa alusiva ao evento.
Na área gustativa, ainda sinto o cheiro do pão com manteiga, na chapa, dos cafés, dos crocantes pastéis da feira, com garapa e, do incomparável sanduíche de mortadela, do mercadão. E as balas de amendoim, em forma de dadinho, chamada de “IV Centenário” tinha na embalagem a “espiral descendente”, desenho idealizado por Oscar Niemeyer.
A inauguração da Catedral da Praça da Sé foi um dos momentos mais lindo que presenciei.
No desfile oficial, a presença de vários heróis da Revolução de 32, dançando com suas fardas e armas a tira colo, ao som das orquestras e conjuntos como o de Pixinguinha e a Velha Guarda do Samba. A música alegre invadiu a garoa e o silêncio das ruas de São Paulo, instalando na cidade um clima de festa excepcional.
Os principais locutores das rádios paulistas fizeram homenagens a São Paulo. Entre eles Randal Juliano, da Rádio e TV Record e Homero Silva das rádios Tupi e Difusora.
O melhor, entretanto, ainda estaria por acontecer. Ao cair da noite ocorreu a tão comentada “chuva de prata”, lançados em forma de estrelas, na população, pelos aviões da FAB, tal como houve na coroação da Rainha Elizabeth II, na Inglaterra.
Ainda naquele fim de noite se encerrava uma corrida de revezamento, com os principais esportistas do Brasil, percorrendo São Paulo com uma tocha olímpica cuja pira estava localizada no Pátio do Colégio. Ela seria acesa por Ademar Ferreira da Silva, medalhista dois anos antes, em Helsinque.
“Uma cidade igual a esta jamais existirá novamente. Feliz quem viveu a São Paulo do quarto centenário!”