Marin, o anti-herói
Hoje ,excepcionalmente vamos falar de um anti-herói brasileiro. Nascido José Maria Marin, 83 anos, paulista de Santo Amaro, ex-ponteiro direito do São Paulo Futebol Clube, jogador que não possuía boa técnica futebolística, fez apenas um gol na temporada que atuou no tricolor e, por isso foi jogar em times como Jabaquara e São Bento de Sorocaba. Mesmo assim, o jovem atleta chamou atenção de Vicente Feola, futuro técnico campeão do mundo, então treinador do São Paulo que o aconselhou estudar para garantir uma vida mais próspera. Assim, conciliou a rotina dos treinos com os estudos na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco formando-se bacharel em 1955.
De advogado, dirigente esportivo, presidente da Federação Paulista de Futebol, da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), do Comitê Organizador da Copa do Mundo da Fifa e político, chegou a ser governador de São Paulo. Em 2012 um fato pitoresco marcou a trajetória de Marin durante a cerimônia de entrega da taça da Copa São Paulo de Futebol Júnior, no Pacaembu, quando o Corinthians foi campeão. Nesta ocasião o nosso anti-herói embolsou sorrateiramente uma das medalhas de ouro que estavam sendo distribuídas aos vitoriosos.
Hoje, o ex-presidente da CBF, é acusado de receber subornos em troca de ceder a empresas, direitos comerciais e direitos de transmissão de eventos esportivos. Os crimes teriam sido cometidos nos Estados Unidos, por meio de empresas e bancos com sede no país. Entre as acusações está a de ter recebido US$ 3 milhões por edição da Copa América, até 2019, além de mais de R$ 2 milhões por edição da Copa do Brasil. Por esta razão foi preso, em Zurique, com outros cartolas internacionais, por receber e repartir propina de corrupção da FIFA.
Na Suíça chegou a receber proposta para trabalhar na prisão. A administração prisional ofereceu trabalho para ajudar a passar o tempo. O brasileiro poderia atuar no setor de etiquetagem, preencher endereços em pacotes para serviços de correio e até mesmo ser ajudante de cozinheiro. Por ironia do destino, o nosso ex-herói receberia a bagatela de R$ 60,00, por dia, pelos honestos serviços prestados. Após passar cinco meses preso na Suíça, sem ao menos varrer a sua cela, é extraditado para os Estados Unidos. Para se beneficiar, Marin paga fiança de R$ 57 milhões para cumprir prisão em seu apartamento de luxo, em Nova York. Se não tivesse de usar a tornozeleira eletrônica, o nosso anti-herói seria igualzinho ao meu amigo. Esse só sai de casa para ir ao Sakashita fazer compra, na farmácia do Airton comprar remédio para pressão, na Caixa Federal pagar as contas, na missa aos domingos rezar para São Jorge e no Posto Ipiranga comprar pão quente. Nada de passar na rodoviária, no bar do Ceju tomar umas “Original”, na padaria do Dácio jogar conversa fora e jogar racha ou baralho, no Tênis Clube.
Pelo menos se o meu amigo tivesse o dinheiro da fiança paga pelo Marin daria para ele comprar 1.900 carros populares (30 mil); 114 caros de luxo (500 mil); 38 iates (1,5 milhão); 16.200 celulares top de linha (3.500) e ainda o seu coringão poderia conquistar um mundial, duas libertadores, três Copas do Brasil, quatro Campeonatos Brasileiros e cinco Paulistas.