No tempo das balsas…
Na praia do antigo Porto Taboado, final da Rodovia Euclides da Cunha, ao lado do Porto de Areia, eram desembarcadas as boiadas que atravessavam de balsas pelo rio Paraná para a Estrada Boiadeira com destino ao município de Barretos. As balsas levavam também pessoas, bicicletas, motos, carros, caminhões e ônibus para Aparecida do Taboado e região.
Foi numa dessas travessias que o médico João Soares Borges disse ter conhecido o saudoso Ditor Pintor e hoje sente saudades das românticas serestas feitas ao luar com aquele grande seresteiro.
E, para ir aos bailes do Taboado, só tinha um caminho, a balsa, relata Lélio Teixeira, pé-de-valsa inveterado.
Era também pela balsa que se ia aos bailinhos da Pousada do Japonês, da Lagoa Santa, como a galera de Cenise Monte Vicente.
Navegar na balsa era uma grande aventura na juventude de Odenir Visintin Rossafa Garcia. Tinha a espera na fila de embarque, mas, no Bar do Zuza, era comemorado tudo, o encontro com os amigos e os passageiros. Tempo bom.
Assim, Valéria Fraga, que foi da época das balsas de madeira. Ficava torcendo para ter fila só para ir à barraca tomar sorvete da Yopa e depois usar o fundinho do pote para brincar de pião.
Neste sentido, Mikio Ozahata admite que éramos felizes e não sabíamos. Tivemos uma infância maravilhosa, inventávamos os nossos próprios brinquedos.
E, o Severino Rossafa Belasco, popular Bocaiúva, era entendido de balsas. Por ter trabalhado como pacoteiro da Riachuelo, engraxate, funcionário de armazéns de secos e molhados do Francisco Bermal Caparroz, Empório dos Irmãos Sardinha, leva e traz do Banco Vale do Paraíba, office boy do Cartório de Amaury Whitaker, realizou mais de mil viagens sobre as águas do Paranazão.
Mauro Di Deus conta que o seu tio Benedito perdeu o freio do seua caminhão passando pela balsa inteira e caindo no rio feito uma abóbora madura. Você acredita que ele, já dentro das águas, feito Aparecidão da Rubineia, abriu a porta do Fenemê e saiu tranquilo com o palheiro na boca, parecendo uma Maria Fumaça parada na Estação da Fepasa?
Conta-se nas rodas de bar que certo dia os pecuaristas Emídio Araújo e Fraquito Bermal se encontraram na balsa. Ao avistar aquela imensidão do rio, um deles comentou: – Já imaginou se tudo isso fosse leite? O outro respondeu: – Mas como vamos arranjar tanta água pra botar no leite, compadre?