O barbeiro de Severínia
O nosso herói de hoje é Jorge Ale, artilheiro do Santa Fé Tênis Clube. Apesar dos seus 77 anos, ele ainda faz muitos gols no tradicional racha dos sábados. Trabalha como caixeiro-viajante há mais de 40 anos. Com uma bagagem desta, o homem tem muitas estórias para contar. Dentre elas, a seguinte:
“Lá em Severínia tinha o Figo. Isso mesmo, esse era o apelido dele. Aliás, ninguém chamava ele por outra coisa. Era Figo pra cá, Figo pra lá… Eu acho que esse apelido era devido à mania de cantar a ópera Fígaro enquanto cortava o cabelo ou fazia a barba do freguês. Era barbeiro na pracinha da cidade.
Ele tinha sempre, num copo com água, uma bolinha de madeira do tamanho daquelas de pingue-pongue, que era pro freguês colocar na boca e fazer uma bochecha para escanhoar bem a sua barba. Ele tinha fama de ser um bom barbeiro por causa dessa técnica.
Certa feita, passando pela cidade, fui fazer a barba com Figo. Antes de me barbear, ele pediu educadamente para que eu colocasse a tal bolinha na boca pra estufar a bochecha. Depois pediu para eu mudar o lado da bochecha. E, terminado o serviço, devolveu a bolinha de madeira no tal copo com água.
E eu, curioso, lhe perguntei: – Me diga uma coisa, barbeiro, você faz a barba de todo mundo desta cidade usando a mesma bolinha aí?
– Sim, sinhô. Faz muitos anos que eu sou barbeiro aqui e sempre usei essa técnica pra barba ficar bem feita.
– E não tem perigo de algum freguês engolir essa bolinha, não?
– Ah… tem sim, sinhô. Muitos já engoliram essa bolinha que eu usei no sinhô. Mas o pessoal aqui desta cidade é muito honesto. No dia seguinte, bem cedo, eles vêm devolver a dita cuja. Ela tá sempre aí no copo pra ficá limpinha…”