Diz a lenda
Diz a lenda que há muitos séculos havia um Rei conhecido por suas maldades. Todos os condenados à pena de morte sempre recebiam a visita desse Rei na véspera da data marcada para a execução. Ele gostava de fazer apostas com seus condenados e ele sempre propunha que, caso o condenado, ganhasse a aposta, ficaria livre da execução. Mas ninguém jamais ganhou. O problema é que o Rei, como característica do seu sadismo, fazia apostas forjadas, impossíveis de serem perdidas por ele. O seu prazer era encher o prisioneiro de esperança, para depois executá-lo.
Certa vez, um sábio curandeiro fora condenado à forca. A alegação do Rei era que ninguém poderia ser mais sábio que ele próprio. Nesse caso, o sábio fora condenado à pena capital sob a alegação de prática de bruxaria.
Na véspera de sua execução, o sábio – como era esperado – recebeu a visita do Rei, que lhe fez uma proposta: Ofereceria a ele dois pedaços de papel dobrados. Num deles estaria escrita a palavra “VIDA” e no outro a palavra “MORTE”. O sábio deveria escolher um dos papéis. Caso tirasse a palavra “VIDA” escaparia da execução. Mas seria enforcado se tirasse o papel com a palavra “MORTE”. O Rei disse que retornaria no dia seguinte, minutos antes da execução, para cumprir a aposta.
O sábio sorriu um pouco aliviado. Antes, ele tinha 100% de certeza que seria morto. Porém, após a proposta do Rei, haveria uma chance de 50% dele escapar da forca. Seu colega de cela, um antigo condenado à prisão perpétua, já sabendo da desonestidade do Rei, alertou o sábio: – “Ninguém escapa das apostas do Rei. Na verdade, ele trará amanhã dois papéis com a palavra “MORTE” escrita em ambos. Não haverá possibilidade de você tirar a palavra “VIDA”. Após ouvir o alerta do colega de cela, o sábio deu um suspiro e disse: – “Eu achava que tinha 50% de chance de escapar da forca, agora estou transbordando de felicidade. Após seu aviso, passei a ter 100% de certeza de que não serei executado”. O colega de cela pensou que o sábio havia enlouquecido, tamanha a bobagem que ele falara. Virou-se para o lado e foi dormir.
No dia seguinte, faltando pouco tempo para a execução da pena, o Rei apareceu com os dois papéis dobrados. Estendeu as mãos e mandou o sábio escolher um. O sábio escolheu seu pedaço de papel. Sem abrir, colocou-o na boca e engoliu.
O Rei, furioso, gritou: – “Idiota! E agora? Como saberemos qual o papel que você escolheu?”
Ao que o sábio respondeu: – “Simples. Basta ver o papel que ficou na mão de Vossa Majestade”. Diante do risco de ser desmascarado, o Rei não teve outra alternativa senão absolver o sábio da sentença de morte.
Moral da história: Que sejamos na vida sempre sábios. E que, se um dia nos tornarmos reis, que levemos para o trono a nossa sabedoria e não a tirania.